Mudar ou não mudar

Fui neurótico durante anos. Cheio de ansiedades, depressões e egoísmos. Todos me diziam que mudasse, eu ficava ressentido e ao mesmo tempo concordava, e queria mudar, mas não conseguia, por mais que tentasse. O que mais me feria era o meu melhor amigo, que, tal como os outros, insistia que eu mudasse. Mas, um dia, ele disse-me: “Não mudes! Gosto de ti como tu és!” Estas palavras foram música para os meus ouvidos, esta frase do amigo: “Não mudes! Não mudes! Não mudes… Gosto de ti como tu és!” Então relaxei; voltei a viver. E então mudei! Agora sei que não teria conseguido mudar até encontrar alguém que me amasse, com ou sem mudança. É assim que vós me amais, ó Deus?

Anthony de Mello. “Mudar ou não mudar”. In: O canto do pássaro, disponível em https://www.centroloyola.org.br/revista/bagagem/um-poema/1773-mudar-ou-nao-mudar.

Meditação:

Devemos ou não mudar? De que tipo de ajuda necessitamos para que a mudança aconteça em nós? O Passo a Pensar de hoje nos propõe uma reflexão sobre essas questões, a partir do texto “mudar ou não mudar”, do jesuíta e escritor indiano Anthony de Mello. Escutemos o que ele nos diz:

Anthony de Mello faz uma confidência: ele reconhece em seu passado um homem neurótico, ansioso, depressivo, egoísta e ressentido. Todas essas atitudes e sentimentos estavam relacionados a uma busca quase obsessiva: um desejo – confirmado pelos outros – de mudar. Consigo identificar o modo como o dever de buscar algo bom provoca efeitos negativos? Percebo isso em mim e à minha volta?

O escritor jesuíta fala da importância da palavra de um amigo: alguém que não exija mudanças e que diga, com sinceridade e simplicidade, seu bem querer, que nos convença de que nossa vida e existência são um bem, do jeito que somos. Por que somente a palavra amiga de um outro pode nos libertar do pesado fardo do “dever ser”? Já tive esta experiência em minha vida?

O jesuíta indiano expressa uma surpresa: a mudança chegou, inesperadamente, como consequência de um relaxamento, de uma dedicação mais simples à vida como ela é. Só o amor – e não o dever – pode nos conduzir à verdadeira transformação. E o autor aponta aí, nesta experiência, algo do mistério de Deus. Compreendo que a mudança só pode acontecer quando assumimos a realidade concreta, e não quando a rejeitamos? O mistério da encarnação de Jesus Cristo assume justamente este modo de relação com a humanidade.

Vamos chegando ao fim de mais um Passo a Pensar. Em que pontos a reflexão de hoje mais lhe inspirou e provocou? Deseja retomar e aprofundar algo?

A Faculdade Jesuíta deseja que a amizade e o amor promovam em nós a única transformação que liberta!

Locução: Lucimara Trevizan e Francys Silvestrini Adão SJ

Música: Adoro Te – D.R. © CD Sanctus – Paulinas.