Domesticar ou educar?

Educar e domesticar são processos que formalmente se assemelham: em ambos os casos trata-se de um induzir comportamentos que sabemos adequarem-se ao contexto social. (…) Mas o que esperamos hoje dos nossos filhos? Para que vida os queremos acompanhar? Que valores estão por trás dos comportamentos que pretendemos fazê-los aprender? A diferença entre educar e domesticar depende da colocação desta pergunta. Domesticar alguém não requer perguntas de sentido, mas apenas objetivos de comportamento. Se nos basta que um filho “se comporte bem”, é suficiente encontrar instrumentos que se mostrem adequados à necessidade; entre estes, [celulares] e computadores com infinitas variedades de jogos e programas à disposição tornaram-se hoje o recurso mais fácil, eficaz e sempre ao alcance da mão (…). A partir do primeiro ano de vida, graças a estes instrumentos é possível obter o seu silêncio, neutralizá-los, estar um pouco em paz. (…) Mas será que, realmente, nos basta domesticá-los? Domesticá-los mantém os filhos próximos e reduz o medo pelos perigos que podem encontrar ao viver, mas abre também para o risco de fazer implodir a vida. (…) Educar prevê a dificuldade (mas também a preciosa oportunidade) de implicar-se numa relação: é conduzir para o mundo; é encorajar a fazer experiência, a pôr-se à prova, a pensar e a agir por si próprio. É indicar uma direção que possa apaixonar. Por isso educar exige ter valores em que acreditar, para inserir indicações e proibições num contexto de sentido. Caso contrário, talvez os nossos filhos não nos respondam: procurarão adaptar-se quando é necessário, mas no fim ignorarão tudo aquilo que provém de nós, considerando-o como algo de substancialmente irrelevante.

Mariolina Ceriotti Migliarese. “Educar não é domesticar”. In: https://www.imissio.net/artigos/53/4156/educar-nao-e-domesticar/

Meditação:

Como lidar com a humanização das pessoas que nos são confiadas? Qual é o papel educativo dos pais, professores, amigos na vida de uma pessoa? Para nos ajudar a refletir sobre essas questões, o Passo a Pensar de hoje traz o texto “Educar não é domesticar”, da psicoterapeuta e neuropsiquiatra infantil Mariolina Ceriotti Migliarese. Escutemos o que ela nos diz:

Mariolina Migliarese fala da educação e da domesticação como dois processos que apresentam semelhanças em relação à sua finalidade: a adequação dos comportamentos de alguém a um determinado contexto, sempre em relação com alguns valores, uma concepção da vida. Você reconhece esta dupla dinâmica em seu próprio processo de humanização e em sua relação com os outros?

A neuropsiquiatra descreve a diferença fundamental entre educar e domesticar: trata-se de vincular – ou não – os comportamentos com as perguntas de sentido. A domesticação funciona como um treinamento instrumental que quer diminuir riscos, mas pode neutralizar o que cada um tem de próprio, sua liberdade criativa. Você identifica isso em sua experiência? Esta parece ser uma tendência de nossa sociedade?

Mariolina faz uma bela defesa do processo educativo como uma experiência pessoal e relacional, que supõe provas, acertos e erros, o desenvolvimento dos afetos e da autonomia, em resumo, tornar-se um ser humano capaz de pensar e agir com sentido, de modo singular. Como você reage a esta proposta? Você acredita neste modelo de educação?

O Passo a Pensar de hoje vai chegando ao fim. Você concorda com a reflexão proposta? Que pontos merecem um maior aprofundamento?

A Faculdade Jesuíta deseja que todos sejamos frutos e agentes de uma educação humanizadora!

Produção e Locução: Lucimara Trevizan e Francys Silvestrini Adão SJ

Música: Crepúsculo. © 2016, Cristóbal Fones, SJ