Calar para se escutar

O silêncio é desconfortável para quem encontra no barulho a forma de fugir de si mesmo. É raro encontrar-se alguém capaz de ficar em silêncio e em paz enquanto à sua volta os outros falam sem parar de tudo e, portanto, de nada. Numa simples conversa entre duas pessoas, há quem se sinta na obrigação de preencher qualquer silêncio, acabando quase sempre por dizer o que, se tivesse pensado, não diria. Não só não era necessário, como acabou por ser pior. Em relação ao que importa saber do mundo e dos outros, por mais que nos esforcemos, jamais conseguiremos estar atualizados em relação a tudo, mas o fato de o tentarmos faz-nos perder uma grande parte do nosso tempo, que, de forma mais sábia, podia ser investido de melhor forma. É estranho que queiramos tanto saber uns dos outros, mas tão pouco de nós mesmos. Hoje temos conforto, mas não conseguimos descansar. Temos quase tudo, mas andamos desassossegados, talvez porque nos falte o mais importante. Em vez de vivermos, preferimos andar ocupados sem parar, sem descansar, sem paz. O nosso caminho habitual é um andar de urgência em urgência, sem parar. E, no caso raro de não as haver… inventamos uma, ou quantas forem precisas até que surja mais alguma de forma natural. Há cada vez mais gente com medo do sossego, mas o mesmo silêncio que sentimos como um vazio pode ser o espaço e o tempo da nossa paz. Faz-nos falta parar, afastarmo-nos do mundo e aproximarmo-nos de nós.

Jose Luís Nunes Martins. “Tanto barulho para quê?”. In: https://www.imissio.net/artigos/49/4363/tanto-barulho-para-que/

Meditação:

O que nos impede de parar de fazer barulho para escutar, em profundidade, nossa voz interior? O Passo a Pensar de hoje quer nos ajudar a refletir sobre isso, a partir da crônica “Tanto barulho para quê?”, do filósofo e escritor português José Luís Nunes Martins. Escutemos o que ele nos diz:

José Luís Nunes Martins enumera algumas razões pelas quais nós temos dificuldade de ficar em silêncio: desconforto, medo do vazio, fuga de si mesmo. Você sente-se capaz de cultivar o silêncio? Ou se identifica com as dificuldades apresentadas pelo escritor?

O filósofo dá alguns exemplos sobre a maneira como a falta de silêncio afeta nossa vida: ele fala das conversas sem profundidade, nas quais falamos sem pensar, da compulsão por estar atualizado sobre todas as notícias, do ativismo que nos torna incapazes de descansar. Você identifica em sua vida estes “sintomas” da falta do silêncio?

José Luís convida seus leitores ao silêncio como a abertura de um espaço de escuta interior, um tempo para aproximar-se de si, de seus medos e desejos, um caminho para encontrar a paz consigo e com sua história. Você já experimentou isso? Como você tem saboreado sua própria intimidade?

O Passo a Pensar de hoje vai chegando ao fim. Você concorda com a reflexão proposta? Que pontos merecem um maior aprofundamento?

A Faculdade Jesuíta deseja que cada um de nós aprenda a calar, a escutar e a falar com profundidade!

Música: Charkush. © 2016, Cristóbal Fones, SJ

Produção e apresentação: Lucimara Trevizan e Francys Silvestrini Adão SJ