Somos juízes parciais

Quando pedimos a Deus que faça justiça e puna o pecador, criminoso ou delinquente, como nós mesmos o faríamos – se pudéssemos –, não estamos considerando a possibilidade de amanhã sermos nós mesmos os réus de algum pecado, crime ou delito semelhante! Além disso, não estamos considerando a possível parcela de culpa que temos pela criminalidade e delinquência existentes – por omissão ou falta de solidariedade nossa para com os outros. Pensamos que somos capazes de ser um juiz imparcial em qualquer circunstância, como se tivéssemos presente toda a história, todos os dados e informações objetivas e circunstanciais [por um lado] e subjetivas e psicológicas [por outro lado]. Julgar só parece fácil enquanto os julgados são os estranhos. Mas, quando pessoas que amamos, começando pelos nossos próprios filhos, são os que devem ser julgados e condenados, a função de julgar e condenar se revela insuportável. Assim como alguém movido pelo ódio contra uma pessoa não consegue enxergar bem algum nela no momento de julgá-la, assim também não consegue enxergar nela o mal alguém movido pelo amor. Daí a sabedoria de Jesus: “Não julgueis e não sereis julgados; não condeneis e não sereis condenados”.

Luiz Carlos Sureki SJ. “A cabana – Algumas considerações sobre a atitude de julgar”. In: https://faculdadejesuita.edu.br/a-cabana-algumas-consideracoes-sobre-a-atitude-de-julgar/

Meditação:

Nossos julgamentos são justos? Que elementos podem condicionar nosso senso de justiça? O Passo a Pensar de hoje quer nos ajudar a refletir sobre isso, a partir de um trecho do texto “Algumas considerações sobre a atitude de julgar”, do professor de Filosofia e Teologia, Luiz Carlos Sureki. Escutemos o que ele nos diz:

Luiz Carlos Sureki fala de uma associação entre a oração, o desejo de fazer justiça e o ato de punição. Em relação a isso, ele já emite um alerta: nosso pedido seria diferente se estivéssemos no lugar do réu ou se tivéssemos consciência de nossa corresponsabilidade pelas injustiças do mundo. Em suas orações e julgamentos, você se sente uma pessoa capaz de empatia? É consciente de sua parcela de responsabilidade pelo mal que acontece no mundo?

O professor nos ajuda a compreender a razão da parcialidade de nossos julgamentos. É difícil reunir um conjunto de informações sobre as circunstâncias objetivas de um ato, bem como sobre as motivações internas que levam a um erro. Apesar desta dificuldade, quando nos referimos a um estranho, raramente temos consciência de nossa ignorância real e dos limites de nosso conhecimento sobre uma determinada situação. Você se reconhece como uma pessoa parcial? Ou tende a reunir mais informações, antes de emitir uma opinião sobre o erro dos outros?

Luiz Sureki nos coloca diante da potência de nossos afetos: tanto o ódio quanto o amor podem nos cegar, dificultando a nomeação objetiva e o justo julgamento da mistura do bem e do mal que existem em todos nós, seres humanos. Por isso, a sabedoria do evangelho aconselha a não ocupar este lugar de juízes e condenadores da vida alheia. Como seus afetos condicionam seu modo de julgar as ações alheias?

Vamos chegando ao fim de mais um Passo a Pensar. Gostaria de retomar algum ponto desta reflexão?

A Faculdade Jesuíta deseja que, ao reconhecermos nossa parcialidade, saibamos tecer relações mais justas entre nós.

Música: Abide With Me – Henry F. Lyte/William H. Monk © CD Sanctus – Paulinas.

Produção e Locução: Lucimara Trevizan e Francys Silvestrini Adão SJ