As marcas do Espírito em nossa carne

O dinamismo do espírito pode ser claramente percebido em nossos desejos. Quando desejamos algo e tão logo o alcançamos, ficamos um pouco decepcionados e, costumeiramente, outro objeto é posto em seu lugar, talvez com a expectativa de nele encontrarmos a resposta final para o nosso desejo. E aí também reside o aspecto relacional do espírito: o nosso desejo é sempre desejo de outra coisa, outros objetos, outras pessoas, outros caminhos e possibilidades de existir. A palavra “existência” significa isso mesmo: estar fora de si, lançado no mundo, estando e sempre sendo relação com o outro. Esse movimento dinâmico e relacional, essa abertura impossível de ser inteiramente bloqueada poderia ser chamada de transcendência. O espírito não é, pois, uma coisa qualquer, é impulso insaciável de transcendência. Onde ele está? Oculto em algum lugar? Seria assim se o espírito fosse uma coisa, não o sendo, porém, ele se manifesta em todos lugares e sopra onde quer. Inclusive no corpo. Porque o corpo sendo nossa carne e nossa fragilidade é também a nossa primeira forma de expressividade. Quando somos subjugados pelas imagens de uma bela dança, não vemos apenas um corpo em movimento ou um artefato anatômico, e quando somos enlevados por uma bela música, não escutamos somente ondas sonoras, vibrações mensuráveis. Como diz o poeta, nessas ocasiões “alguma coisa acontece no meu coração”. Eis aí a marca do espírito na carne e os exemplos se multiplicam indefinidamente, seja ao provarmos um bom vinho, lermos uma poesia, aprendermos algo novo, vislumbramos um gesto de amor.

Carlos Roberto Drawin. “O espírito na carne”. In: https://faculdadejesuita.edu.br/o-espirito-na-carne/

Meditação:

Nossas experiências espirituais se contrapõem à nossa carne? Como podemos reconhecer, na própria experiência corporal, as marcas do dinamismo do espírito? O Passo a Pensar de hoje quer nos ajudar a refletir sobre isso, a partir de um trecho do texto “O espírito na carne”, do professor e filósofo Carlos Roberto Drawin. Escutemos o que ele nos diz:

Carlos Drawin descreve o dinamismo do espírito a partir de duas experiências de nossa humanidade: somos seres de desejo e somos seres relacionais. Estas características humanas fazem de nós “ec-sistentes”, seres sempre em busca de algo fora de si mesmos, em busca do outro. Você percebe este dinamismo em sua experiência? Como lida com esta saída de si em direção ao outro?

O professor destaca, porém, que este desejo e este impulso de relação são insaciáveis. E é justamente essa insaciedade que nos faz permanecer num estado de abertura, que podemos chamar de transcendência. Como você lida com essa insaciedade? Consegue se alegrar com esta contínua abertura aos outros e à novidade?

Escutemos uma segunda vez a reflexão de Carlos Roberto Drawin.

Carlos Drawin nos ajuda a reconhecer as marcas do espírito em nossa corporalidade e carnalidade, movidas pelo dinamismo de abertura e de saída de si. Ele descreve experiências de beleza e de prazer, ligadas aos sentidos, às artes, ao intelecto e aos afetos. Em nosso corpo frágil se expressa nossa abertura ao impacto do outro em nós. Você percebe, em sua própria vulnerabilidade, este belo movimento de transcendência?

O Passo a Pensar de hoje vai chegando ao fim. Gostaria de aprofundar algum ponto desta reflexão?

A Faculdade Jesuíta deseja que sejamos pessoas integradas e abertas ao mistério do encontro com o Outro!

Música: Adoro Te – D.R. © CD Sanctus – Paulinas.

Produção e Locução: Lucimara Trevizan e Francys Silvestrini Adão SJ