A qualidade de nossa esperança

O que posso saber? O que devo fazer? O que me é permitido esperar?” A verdade é que as três emblemáticas perguntas em torno às quais Kant articulou o seu pensamento como que se infiltram na vida comum e, de uma forma ou de outra, se acendem também dentro de nós, aguardando, até mais do que uma resposta taxativa, um aprofundamento, uma maturação e um caminho. (…) Sem dúvida que podem ser atordoantes as perguntas, em particular aquela que nos devolve a questão sobre a qualidade da nossa esperança. “O que me é permitido esperar?” é uma pergunta árdua, que nos põe facilmente em embaraço, a engolir em seco. E, contudo, ela está disseminada por todo o lado. (…) A interrogação sobre o que esperar recorda-nos que somos seres de fronteira, projetamo-nos, transcendemo-nos, não nos sentimos completamente localizados aqui, farejamos um futuro. (…) Agora que a contagem decrescente para o Natal começou, e voltamos a procurar nas caixas da dispensa os símbolos natalícios que ornamentam as nossas casas, é importante perguntarmo-nos o que nos é permitido esperar. Um símbolo não deveria ficar sequestrado pela mera estética do ornamento, não deveria ser um ilusório expediente mudo, mas deveria poder avizinhar-nos com a sua força nua a alguma coisa de essencial para nós próprios. E, desse modo, ajudar-nos a refletir sobre o horizonte, o alcance, a potência e a natureza da nossa esperança; sobre as formas da sua objetiva configuração; sobre se estamos disponíveis ou não para nos tornarmos seus cúmplices. Seus enamorados. Seus servidores.

José Tolentino Mendonça. “A substância das coisas esperadas” In: https://www.imissio.net/artigos/53/4925/a-substancia-das-coisas-esperadas-por-tolentino-mendonca/

Meditação:

O que nos é permitido esperar, de modo razoável? Qual é a qualidade de nossa esperança? Para nos ajudar a refletir sobre isso, o Passo a Pensar de hoje propõe um trecho do texto “A substância das coisas esperadas”, do biblista e cardeal português José Tolentino Mendonça. Escutemos o que ele nos diz:

José Tolentino começa sua reflexão com as três perguntas que estão na base da filosofia kantiana. Mas, pouco a pouco, ele se concentra na terceira pergunta: “o que me é permitido esperar?” Ele diz que esta pergunta difícil não procura por respostas fechadas, mas abre um caminho de amadurecimento. Como você reage a esta pergunta? O que tem povoado suas esperas e esperanças?

O biblista parte da pergunta sobre a espera para apresentar uma reflexão sobre nossa humanidade. O simples fato de nos perguntarmos sobre a esperança fala da tensão que nos habita: somos seres enraizados no presente, mas abertos ao futuro; somos seres imanentes, mas em contínuo processo de transcendência; estamos sempre em algum lugar, mas abertos às fronteiras e à exploração de outros territórios. Esta descrição diz algo sobre sua experiência de vida? O que esta tensão provoca em você?

Tolentino conclui sua reflexão provocando-nos a ir além do aspecto estético dos enfeites natalinos, para abrir-nos à inspiração que os símbolos deste tempo nos propõem. Quem espera se engaja para tornar real, presente, eficaz, aquilo que é esperado. Como anda sua cumplicidade com sua própria esperança?

Vamos chegando ao fim de mais um Passo a Pensar. Há algum ponto desta reflexão que você queira aprofundar e revisar?

A Faculdade Jesuíta deseja que vivamos uma esperança engajada, que nos humanize e abra nosso mundo a novas, belas e surpreendentes possibilidades!

Música: Morning Has Broken – Tradicional Gaelic Melody © CD Sanctus – Paulinas.

Produção e Locução
: Lucimara Trevizan e Francys Silvestrini Adão SJ

Realização: Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia