João Batista Libanio SJ
Diante da inevitável secularização da sociedade, as religiões, como instituição, exercerão influência social, se conseguirem resolver seus conflitos internos e se derem exemplo de atitude ecumênica contribuindo para a pacificação e a humanização do nosso contexto social. O futuro social das religiões dependerá da maneira como trabalharão suas relações entre si na linha da tolerância, do diálogo, da busca da verdade sem exclusões, exercendo efeito-demonstração.
A problemática do encontro do cristianismo com outras religiões existe desde o seu início e é retomada, de modo mais explícito, em certos momentos da história da Igreja. O cristianismo nasceu do judaísmo e teve de marcar sua diferença em relação a ele, ora dialogando, ora contrapondo-se. Enfrentou o paganismo diante do qual teve também de marcar a própria identidade, mas assumiu e assimilou elementos dele.
O diálogo entre as religiões impõe-se no contexto do pluralismo cultural. Há uma novidade no seio da cultura ocidental. Não se trata da simples diversidade de posições e microculturas no seu interior, como foi o caso da Idade Média, mas de posturas intelectuais radicalmente divergentes e até opostas, quer surgidas no interior do Ocidente, quer vindas de fora. E os meios de comunicação social tornaram tal fato uma evidência meridiana.
Além do pluralismo cultural, existe o religioso. Este tornou-se evidente à consciência do Ocidente por causa da verdadeira invasão de tradições religiosas e culturas de outros continentes, favorecida pelas migrações e pela inter-relação criada pelos meios de comunicação social. O mundo transforma-se hoje em uma “aldeia global”. Assiste-se ao fenômeno da “globalização”, “planetização” ou “cosmificação”.
(João Batista Libanio – A religião no início do Milênio. São Paulo: Loyola, 2002, p. 189)