“Quando fomos quase todos para casa por causa da pandemia, foi amplamente propalado que apenas se mantinham em funcionamento os “serviços essenciais”. Fornecimento de água, eletricidade, gás, transportes, hospitais, segurança, recolhimento e tratamento de resíduos, hiper, super e minimercados, farmácias, bancos, correios, órgãos de comunicação social. Enfim, o que garantisse que a vida como a conhecemos não colapsaria completamente e que algum grau de segurança e de estabilidade estaria assegurado.
Naturalmente que nada foi normal dentro desse “grau mínimo”…
Em jeito de provocação ou de aforismo, foi sendo insinuado que a circunstância provocava a distinção entre o que é essencial e o que é meramente acessório, entre o que realmente importa para o funcionamento da sociedade e o que é dispensável. Mas o óbvio rapidamente veio à tona e nele amarrada a certeza da “utilidade do inútil”… Com teatros e cinemas fechados, com milhares de eventos culturais cancelados, a cultura, em múltiplas expressões, é uma das protagonistas da quarentena. O que seria de nós nestes dias sem filmes, sem séries, sem música, sem livros, sem wikipedia, sem dicionário online, sem receitas de culinária, sem poesia?
Não vivemos só das linhas escritas antes disso tudo mas também das que se escreveram durante estas semanas. Inventaram-se concertos online, criaram-se diários gráficos. Os coros cantaram a partir de muitas casas, os bailarinos dançaram coreografias trinchadas em palcos improvisados. Em cada casa, as tintas encheram telas e papéis. Barro e massa de modelar ganharam novas formas. Profissionais e amadores a fazer o que nos torna mais humanos porque é isso que nos distingue dos não-humanos.
Meditação:
A professora descreve o que todos experimentamos nestes tempos de isolamento social. Os serviços essenciais são mantidos na medida do possível, embora nada fosse normal na rotina diária. Logo foi ficando evidente o que é realmente essencial. Podemos viver com bem menos do que compramos, do que acumulamos. Tenho feito esta experiência nesses tempos?
Não há dúvida de que há em nós fome de beleza. Os filmes, as músicas, os vídeos, os livros, a poesia…. e também as pinturas das crianças e adultos em casa, a dança improvisada nos palcos das salas, as sinfonias executadas num mosaico de telas… Tudo isso inunda o dia e a vida de outro significado, de novos olhares para a existência. Dou espaço em minha vida para este outro tipo de serviço essencial?
A cultura é a grande protagonista desse novo normal. Ouçamos novamente o que diz a professora.
A arte nos torna mais humanos e nos faz sair de uma relação utilitária com outros e com o mundo. Ela também nos revela nossa beleza original, nos aponta o sentido da vida. Como lido com esses “essenciais inúteis”, tão necessários à nossa humanização?
Vamos chegando ao final de mais um passo-a-pensar. Concordo com a reflexão proposta?
Que você faça da sua vida, a cada dia, uma verdadeira obra de arte!
Texto: Clara Almeida Santos – jornal online pontosj.pt em 05.06.2020
Música: Adoro Te – D.R. © CD Sanctus – Paulinas.
Locução: Lucimara Trevizan e Francys Silvestrini Adão sj