Geralmente, quando uma pessoa exclama “Estou tão feliz!”, é porque engatou um novo amor, conseguiu uma promoção, ganhou uma bolsa de estudos, perdeu os quilos que precisava ou algo do tipo. Há sempre um porquê. Eu costumo torcer para que essa felicidade dure um bom tempo, mas sei que as novidades envelhecem e que não é seguro se sentir feliz apenas por atingimento de metas. Muito melhor é ser feliz por nada. (…) Feliz por nada, nada mesmo? (…) Particularmente, gosto de quem tem compromisso com a alegria, que procura relativizar as chatices diárias e se concentrar no que importa pra valer, e assim alivia o seu cotidiano e não atormenta o dos outros. Mas não estando alegre, é possível ser feliz também. Não estando “realizado”, também. Estando triste, felicíssimo igual. Porque felicidade é calma. Consciência. É ter talento para aturar o inevitável, é tirar algum proveito do imprevisto, é ficar debochadamente assombrado consigo próprio: como é que eu me meti nessa, como é que foi acontecer comigo? Pois é, são os efeitos colaterais de se estar vivo. Benditos os que conseguem se deixar em paz. Os que não se cobram por não terem cumprido suas resoluções, que não se culpam por terem falhado, não se torturam por terem sido contraditórios, não se punem por não terem sido perfeitos. Apenas fazem o melhor que podem. (…) Você é o que é, um imperfeito bem-intencionado e que muda de opinião sem a menor culpa. Ser feliz por nada talvez seja isso.
Meditação:
O que pode fazer de nós pessoas felizes? Seriam os eventos extraordinários ou um modo específico de lidar com a vida cotidiana? O Passo a Pensar de hoje nos ajuda a refletir sobre essas questões, a partir de um trecho do texto “Feliz por nada”, da escritora e poeta Martha Medeiros. Escutemos o que ela nos diz:
Martha Medeiros fala daquele tipo de felicidade que acompanha um evento novo de nossa vida, seja no âmbito afetivo, profissional ou mesmo físico. Mas, ela alerta para o caráter efêmero desta experiência: “as novidades envelhecem”. Percebo esta realidade em minha experiência pessoal? Consigo fazer a distinção entre um sentimento passageiro de alegria e outro tipo de felicidade mais durável?
A escritora propõe outra relação com a felicidade, que ela chama de ser “feliz por nada”. Isto significa assumir um modo de viver o cotidiano, sem imposição de condições, aprendendo a cultivar igualmente os momentos imprevisíveis de alegria e de tristeza, de realização e de fracasso. Este caminho me parece viável? Que condições tenho imposto à minha vida e que, talvez, me impeçam de experimentar esta felicidade ligada ao cotidiano?
Martha apresenta uma lista de benditos: são aqueles homens e mulheres que encontraram a paz ao abraçar sua própria humanidade, com sua altivez e suas imperfeições. Tenho caminhado em direção a esta paz em relação à minha vida, minha humanidade, minha história? Quais culpas, insatisfações e torturas internas devo abandonar para encontrar o rumo da simples felicidade?
O Passo a pensar de hoje já está terminando. Em que pontos a reflexão de hoje lhe provocou? Há algo que você queira aprofundar?
A Faculdade Jesuíta deseja que você experimente a paz e a felicidade de ser, simplesmente, quem você é!
Texto: Martha Medeiros. “Feliz por nada”. In: Jornal “Zero Hora” nº 16323, 2/5/2010.
Locução: Lucimara Trevizan e Francys Silvestrini Adão SJ
Música: Wayra © 2016, Cristóbal Fones SJ