Os caminhos do cuidado

De quem cuidar? Num primeiro relance de olhos, aparecem os que se situam mais perto de nós. A rotina do cuidado transformou o advérbio “próximo” em substantivo, de modo que quem está o mais perto de nós se transformou no “próximo” do nosso cuidado, do nosso amor. A parábola do bom samaritano consagrou essa relação. A pergunta do levita a Jesus soou simplesmente: quem é o meu próximo? Jesus respondeu-lhe fazendo com que um samaritano se aproximasse da vítima. Numa palavra: o próximo não existe. (…) É aquele de quem nos aproximamos. A ética do cuidado revela como próximo aquele de quem cuidamos, mesmo que esteja longe, afetiva, ideológica e religiosamente. (…)

O caminho curto da ética do cuidado começa com aquele com que nos encontramos em situação de privação. A matriz principal vem lá do início. Existe alguém mais necessitado do que um recém-nascido? Quem se aproxima mais dele do que a mãe? Por aí começa a ética do cuidado (…).

[Mas] o cuidado articula-se em profundidade com a ética social, com a consciência crítica, com o compromisso transformador da realidade. Quanto mais cuidado pelos pobres, marginalizados, desenvolvermos na sociedade, tanto mais haverá movimentos que lutem pela justiça social. Assim, o cuidado transborda do olhar curto e próximo – de quem pede a ajuda imediata – para a visão do conjunto da sociedade, analisando-lhe as condições econômicas e políticas para criar novas relações humanas justas e fraternas.

Meditação:

De quem nós podemos e devemos cuidar? Como vamos ampliando nossa capacidade de nos tornarmos próximos uns dos outros? Para nos ajudar a refletir sobre essas questões, o Passo a Pensar de hoje nos propõe um trecho do texto “Os caminhos do cuidado”, do professor e teólogo João Batista Libanio. Escutemos o que ele tem a nos dizer:

João Batista Libanio estabelece uma relação entre cuidado e proximidade. Mas, inspirado na parábola do bom samaritano, ele alerta: o reconhecimento do outro como próximo supõe uma decisão de aproximação. Trata-se de uma escolha, de um ato humano. Sem isso, não há cuidado possível. Quem são meus próximos neste tempo de pandemia? De quem vou escolhendo, livremente, me aproximar?

O professor aponta as fontes afetivas e vitais de uma ética do cuidado: como recém-nascidos, todos nós fizemos a experiência de sermos cuidados quando éramos absolutamente dependentes e frágeis. Somos todos sobreviventes e só podemos cuidar de outros porque fomos, antes, cuidados. Dou-me conta disso? Recolho, em minha vida, os frutos desta verdade experiencial?

O teólogo faz uma aproximação entre a ética do cuidado – este caminho da proximidade mais imediata – e a ética social – que supõe uma consciência humana e uma solidariedade mais amplas. O cuidado revela, assim, suas implicações sociais, políticas, econômicas, e seu engajamento na busca de mais justiça e de uma maior fraternidade. Como isso me interpela? Como tenho vivido este cuidado no âmbito social?

O Passo a pensar de hoje vai chegando ao fim. A reflexão proposta lhe inspirou? Você concorda com ela? Há algum ponto a revisitar e aprofundar?

A Faculdade Jesuíta deseja que sejamos, todos, homens e mulheres do cuidado, da justiça e da fraternidade!

Texto: João Batista Libanio. “Os caminhos do cuidado”. In: A ética do quotidiano, Prior Velho: Paulinas, 2015, pp. 105-107.

Música: Kawil (gaivota, em língua mapuche). © 2016, Cristóbal Fones, SJ

Locução: Lucimara Trevizan e Francys Silvestrini Adão SJ