Segundo [a filósofa Martha] Nussbaum, há três coisas essenciais que todos temos a aprender (ou a reaprender) sobre a esperança. A primeira é que ela não é um discurso sobre probabilidades. (…) É quando nada parece garantido que a esperança joga um papel fundamental, mobilizando-nos para não cruzarmos os braços nem nos darmos por derrotados. (…) A segunda coisa é que a esperança não é um discurso sobre desejos. Um dos erros frequentes é associar a esperança à satisfação de desejos imediatos, não raro tremendamente banais e infantis. Ora, só podemos falar de esperança quando estão em causa coisas grandes, superiores às nossas possibilidades; quando há uma confirmada incerteza sobre os resultados; e, por fim, quando face ao objeto da esperança percebemos uma impotência e uma falta de controle da nossa parte. (…) A terceira coisa é que a esperança não é apenas um discurso dirigido à prática. Na verdade, mais do que uma simples atitude ou um estado emocional delimitado, a esperança é semelhante a uma síndrome. Inclui tudo: lógica e imaginação, preparativos práticos para a ação e fantasia criativa, racionalidade e fé. (…) Acontece, por vezes, que censuramos a esperança por ela se parecer a uma miragem lenta e indulgente que nos deixa como que a pairar. Contudo, não nos convém ser demasiado rígidos nesta avaliação: mesmo quando a esperança se desenha como uma viagem solitária num fio de arame, ela acaba por ter um papel mais determinante do que supomos nesta nossa travessia.
José Tolentino Mendonça. “O interruptor”. In: https://www.imissio.net/artigos/53/3686/o-interruptor-por-tolentino-mendonca/?fbclid=IwAR3-zFdRJyFyRNWGrrlE9uX9wq08Dakx9NBXuv1hokWvqgahHX03wjtZdg4
Meditação:
Como nós podemos passar do desespero à esperança? O que devemos aprender para que esta transformação aconteça em nós? Para nos ajudar a refletir sobre isso, o Passo a Pensar de hoje traz um trecho do texto “O interruptor”, do biblista, poeta e cardeal José Tolentino Mendonça. Escutemos o que ele nos diz:
José Tolentino Mendonça, comentando o pensamento da filósofa Martha Nussbaum, destaca o caráter transformador da esperança. Não se trata de um discurso ou de um planejamento calculado, mas de uma força mobilizadora que nos engaja ativamente na mudança que desejamos. Consigo perceber isso em mim e à minha volta? Como agem as pessoas com esperança e as pessoas desesperadas?
O cardeal-poeta fala de um paradoxo: a esperança diz respeito àquilo que está bem acima de nossos desejos imediatos, àquilo que não controlamos. Esperamos coisas grandes, coisas que não podemos realizar sozinhos. Dou-me conta de que não há esperança sem ousadia, teimosia, abertura aos outros?
Para Tolentino, é a esperança que nos ajuda a viver bem os momentos mais críticos da travessia de nossa vida, pois ela tem uma dimensão unificadora: diante dos impasses, a reflexão lógica e a ação podem abrir-se à criatividade, à imaginação e à fé. Nesta crise pandêmica, consigo identificar algumas pessoas e grupos que sustentam a esperança e abrem novos caminhos graças à criatividade, à imaginação e à fé?
Vamos chegando ao fim de mais um Passo a pensar. Em que pontos a reflexão de hoje mais lhe inspirou e provocou?
A Faculdade Jesuíta deseja que sejamos aprendizes desta esperança engajada na construção de um mundo novo!
Locução: Lucimara Trevizan e Francys Silvestrini Adão SJ
Música: Morning Has Broken – Tradicional Gaelic Melody © CD Sanctus – Paulinas.