Há perguntas que nos fazem medo, e talvez não devessem. Há interrogações que não nos pedem unicamente informações, mais sérias ou mais banais que sejam, que estamos educadamente dispostos a fornecer, mas aquela verdade concreta de nós que nos custa reconhecer. Há indagações que não são apenas técnicas, dirigidas às nossas competências e aos nossos argumentos defensivos. Há questões dirigidas a um território interior feito de silêncios, adiamentos, fadigas, sonhos que se extinguiram sem deixar espaço a outros sonhos. Vem à minha memória um pequeno fato que me foi contado por um amigo. Um destes dias, quando trazia da escola para casa a filha, ela, com os seus quatro anos, perguntou-lhe: «Papai, os adultos são felizes?». Ele tomou a menina nos braços, e só conseguiu abraçá-la com força, durante muito tempo. «Se respondo, desabo em lágrimas», dizia para si. Ajuda-nos, Senhor, a colher a importância das perguntas que nos desestabilizam, em vez de nos tornarmos, com idade adulta, profissionais da fuga.
José Tolentino Mendonça. “As perguntas que dão medo”. Disponível em: https://www.centroloyola.org.br/revista/outras-palavras/desdobramentos/2174-as-perguntas-que-dao-medo
Meditação:
Estamos preparados para escutar e fazer-nos as perguntas que valem à pena? Estamos dispostos a ultrapassar o nível do conhecimento técnico para ir em busca do sentido da vida? O Passo a Pensar de hoje quer nos ajudar a refletir sobre isso, a partir do texto “As perguntas que dão medo”, do biblista, poeta e cardeal José Tolentino Mendonça. Escutemos o que ele nos diz:
José Tolentino Mendonça fala do medo que podemos ter de sair da zona das informações e da técnica, para adentrar nas camadas mais profundas de nossa humanidade, lá onde se encontra nossa verdade ainda não plenamente dita e elaborada. Também sinto esse medo? Tenho me confrontado com as questões que revelam as alegrias e os dramas da minha vida?
O cardeal-poeta cita a pergunta de uma criança de quatro anos sobre a felicidade dos adultos. Com frequência, as crianças formulam questões que nos desconcertam, pois trazem um ar de novidade e de verdade, que acabamos perdendo com o tempo. Como lido com as perguntas que me desconcertam e me calam?
Para Tolentino, nossa vida adulta pode ser encarada com duas atitudes fundamentais: aprender a abraçar aquilo e aqueles que nos desestabilizam ou viver numa fuga permanente. Qual dessas atitudes predomina em mim? Que tipo de adulto me tornei ou tenho me tornado?
Vamos chegando ao fim de mais um Passo a Pensar. Em que pontos a reflexão de hoje mais lhe inspirou e provocou?
A Faculdade Jesuíta deseja que não tenhamos medo das perguntas, dos silêncios e dos abraços!
Locução: Lucimara Trevizan e Francys Silvestrini Adão SJ
Música: It Is Well With My Soul – Horatio G. Spafford/Philip P. Blis © CD Sanctus – Paulinas.