“A possibilidade de uma interação frutuosa entre ciência e religião nasce do fato de ambas estarem interessadas na busca de uma compreensão verdadeira, a alcançar através de crenças motivadas. Naturalmente, esta é uma afirmação filosoficamente contestada, mas a minha experiência científica encoraja-me a adotar a posição do “realismo crítico” em relação às intuições quer da ciência quer da religião. O termo “realismo” significa a convicção de que podemos obter um conhecimento efetivo da natureza da realidade; enquanto a descrição “crítica” assinala que este conhecimento nunca está completo ou absolutamente certo, ainda que esteja suficientemente bem apoiado em provas para tornar o compromisso nele um ato racional. A ciência e a religião olham para domínios diferentes de encontro com a realidade. A ciência tem a ver com uma dimensão objetiva, na qual as coisas podem ser manipuladas e os acontecimentos repetidos, tendo assim acesso à grande arma da verificação experimental. Contudo, todos sabemos que há muitos níveis de encontro com a realidade – quer o pessoal quer, diria, o transpessoal com a realidade divina – em que nem a manipulação nem a repetição são possíveis sem que se faça violência sobre a realidade encontrada. (…) A diferença de domínios significa que a ciência e a religião colocam questões diferentes sobre a realidade: no primeiro caso como acontecem as coisas; no segundo se há significado, objetivo e valor no que acontece – questões que a ciência tende a excluir do seu discurso. Ciência e religião, portanto, completam-se mutuamente, mais do que serem rivais sobre o mesmo terreno. Para uma compreensão plena precisamos de ambos os modos de intuição.“
John Polkinghorne. “Religião e ciência: Duplo olhar, a mesma seriedade”. In: https://www.imissio.net/artigos/53/4026/religiao-e-ciencia-duplo-olhar-a-mesma-seriedade/
Meditação:
É possível uma interação frutuosa entre ciência e religião? De que maneira cada uma diz algo verdadeiro sobre a realidade? Para nos ajudar a refletir sobre isso, o Passo a Pensar de hoje propõe um trecho do texto “Religião e ciência: duplo olhar, a mesma seriedade”, do físico matemático e teólogo John Polkinghorne. Escutemos o que ele nos diz:
John Polkinghorne fala dos diferentes níveis de conhecimento e de acesso à realidade: há aquele objetivo, acessível às repetições da verificação experimental, mas há também aquele pessoal e transpessoal, que pertence ao domínio do irrepetível. Você já se deu conta desta diferença? Identifica em sua experiência esses dois modos de conhecimento?
O físico matemático fala de sua postura diante de todo conhecimento: um realismo crítico. Esta atitude afirma tanto nossa capacidade de ter algum conhecimento do mundo quanto aceita humildemente os limites e a provisoriedade de nossas descobertas humanas. Você concorda com ele? Tem aprendido esta relação madura com nosso conhecimento coletivo?
O teólogo fala da complementaridade entre a questão do “como as coisas funcionam” e a consideração do sentido e do valor que elas podem ter. As duas questões fazem parte de nossa busca humana. Você respeita esses dois modos de interrogação da realidade? Aceita a autoridade e a legitimidade de ambas, cada qual em seu domínio próprio?
Vamos chegando ao fim de mais um Passo a Pensar. Em que pontos a reflexão de hoje mais lhe inspirou e provocou?
A Faculdade Jesuíta deseja que você tenha um acesso cada vez mais amplo e profundo à nossa realidade!
Produção e Locução: Lucimara Trevizan e Francys Silvestrini Adão SJ
Música: Be Thou My Vision – J.H. Desrocquettes/Ancient Gaelic © CD Sanctus – Paulinas.