Hospitais humanizados

Lia, estes dias, uma interessante entrevista com o arquiteto Renzo Piano, que está neste momento a projetar três hospitais, um deles na região norte de Paris e que será o maior hospital da França. Neste último ano, vimos todos insistentemente mais imagens de hospitais do que no resto das nossas vidas. E que lição podemos retirar? O que é que nós vimos? Se pensarmos, o desenho dos hospitais espelha um entendimento social da sua função. Os hospitais no século XIX eram estruturados em diversos pavilhões, consoante as disciplinas médicas, formando um gentil arquipélago clínico, mas de ilhas separadas. No século XX triunfou a conceção do hospital monobloco, onde a técnica médica registrou um efetivo domínio e obteve um funcionamento mais unitário, mas onde igualmente a dimensão humana se reduziu, a ponto de desaparecer. Por isso, mesmo se alguns o possam talvez acusar de excessivo otimismo, Renzo Piano defende que a aceleração trazida pela pandemia tornou os tempos maduros para um salto cultural: os hospitais deste surpreendente século XXI são chamados a expressar um novo humanismo. Procurando colocar em diálogo elementos que têm estado desligados: a excelência médica e a excelência de humanidade que se possa viver, o olhar integral à pessoa humana (que é corpo, mas também espírito, sentimento, emoções…), o exercício da ciência e o sentido de beleza, a funcionalidade dos espaços e a relação com a natureza.

José Tolentino Mendonça. “Os hospitais do século XXI”. In: https://www.imissio.net/artigos/53/4087/os-hospitais-do-seculo-xxi-por-tolentino-mendonca/

Meditação:

Você já se deu conta de que nossas construções – nossas casas, nossas escolas ou nossos hospitais – não são somente funcionais, mas dizem algo de nossa compreensão do mundo e dos nossos valores? O Passo a Pensar de hoje quer nos ajudar a refletir sobre isso, a partir do texto “Os hospitais do século XXI”, do biblista, poeta e cardeal José Tolentino Mendonça. Escutemos o que ele nos diz:

José Tolentino Mendonça nos faz tomar consciência de que, em tempos de pandemia, temos visto muitas imagens de hospitais. Mais do que isso: ele nos convida a olhar com mais atenção e a enxergar nessas imagens algumas lições. Você já havia parado para olhar os hospitais e outras construções? Aprendeu algo com a observação desses espaços humanos?

O poeta, olhando para o que temos hoje, lança o olhar para o passado. Vê as mudanças das formas e a evolução das concepções de mundo que sustentam essas mudanças: o valor da distinção de cada disciplina médica ou o valor da eficácia da articulação entre as especialidades. Critérios importantes, do ponto de vista técnico. Você costuma ter esta visão histórica para compreender o mundo em que vivemos? Pergunta-se pelos valores que moldaram este mundo?

Tolentino, citando o arquiteto Renzo Piano, fala de um possível salto cultural acessível a nosso tempo. Os hospitais – e outras construções – estão prontos para conjugar técnica e humanização, ciência e beleza, funcionalidade e sensibilidade ecológica. Trata-se de novos espaços de diálogo e de reconciliação. Você acha esta visão demasiado otimista? Como esta proposta lhe interpela?

Vamos chegando ao fim de mais um Passo a pensar. Em que pontos a reflexão de hoje mais lhe inspirou e provocou?

A Faculdade Jesuíta deseja que todos os nossos saberes nos ajudem a construir espaços de diálogo e de humanização !

Locução: Lucimara Trevizan e Francys Silvestrini Adão SJ

Música: Kamañ. © 2016, Cristóbal Fones, SJ