A crise de diálogo

Atravessamos uma verdadeira crise de diálogo. Confundimos falar com dialogar. Enquanto professor, sinto tantas vezes a fragilidade da comunicação. Por vezes sou eu que me canso de “tanto falar” e de pouco ser ouvido ou compreendido. E agora com a máscara, ainda pior. (…) As aulas (…) procuram ser um espaço privilegiado para o diálogo. No entanto, deparo-me com uma, cada vez maior, dificuldade de partilha por parte dos adolescentes e dos jovens. O peso da individualidade de cada um deles impede-lhes a comunicação. O medo de errar e o desejo da perfeição, transforma-se tantas vezes numa inércia assustadora. Uma sociedade como a nossa, cada vez mais utilitarista em que quase tudo se resume à economia e à criação de riqueza, leva-nos a um ideal de individualismo em que cada um tem que se safar. Por isso o medo de partilhar fragilidades com os demais. Esquecemos que, mesmo em classes diferentes, viajamos todos no mesmo barco; atravessamos o mesmo oceano; percorremos o mesmo caminho; somos todos peregrinos em busca da verdade, à procura da felicidade diária. Falta-nos a empatia. Esta capacidade de perceber que é no outro que eu me encontro. É com o outro que irei superar a minha pequenez. Escasseia a humildade de me reconhecer dependente do acolhimento do outro para nele me reencontrar e juntos caminhar para a eternidade. Precisamos urgentemente deste diálogo.

Paulo J. A. Victória. “De que diálogo precisamos realmente?”. In: https://www.imissio.net/artigos/49/4165/de-que-dialogo-precisamos-realmente/

Meditação:

Qual a diferença entre falar e dialogar? O que nos impede de ouvir o que diz o outro? Para nos ajudar a refletir sobre essas questões, o Passo a Pensar de hoje traz o texto “De que diálogo precisamos realmente?”, do professor e cronista português Paulo Victória. Escutemos o que ele nos diz:

Paulo Victória fala da crise de diálogo e, mais amplamente, da fragilidade de nossa comunicação. Dialogar supõe a capacidade de falar, de escutar e de nos compreendermos mutuamente, partilhando algo do que cada um traz em si. Você percebe em você e nos outros esta habilidade? Percebe esta crise de diálogo em nossa sociedade?

O professor enumera algumas causas para a crise de diálogo. Ele fala da dificuldade de assumir e construir nossa individualidade por causa de medos – como o medo de errar e de se mostrar frágil – e desejos paralisantes – como o desejo de perfeição ou de se safar sozinho. Você identifica em si essa dificuldade? Quais são os medos e os desejos que lhe impedem de entrar num verdadeiro diálogo com os outros?

Paulo Victória faz apelo a nossa humanidade comum: todos nós só podemos construir nossa individualidade e superar nossos conflitos graças ao encontro com o outro e à acolhida que ele nos oferece livremente. Você faz a experiência da construção de sua identidade num diálogo fraterno com os outros?

O Passo a Pensar de hoje vai chegando ao fim. Você concorda com a reflexão proposta? Que pontos merecem um maior aprofundamento?

A Faculdade Jesuíta deseja que todos sejamos homens e mulheres da palavra, da escuta e do diálogo!

Produção e Locução: Lucimara Trevizan e Francys Silvestrini Adão SJ

Música: Be Thou My Vision – J.H. Desrocquettes/Ancient Gaelic © CD Sanctus – Paulinas.