A paciência sertaneja

Em meio ao mundo moderno e técnico, o sertanejo segue sendo aquele que guarda em si um modo de viver não completamente cooptado pelas novas formas impostas pela contemporaneidade. É o brasileiro do Brasil profundo que ainda há de fazer face ao Brasil das superfícies. Euclides da Cunha (…) cunhou a clássica definição: “o sertanejo é antes de tudo um forte”. A força, assim, surge como o traço principal daquele que lutava por resistir na vida. Resistir frente às dificuldades de sobrevivência física, mas também da sobrevivência simbólica que significava um modo de vida em risco. E que se desdobrou também em resistência política e bélica. Clarice Lispector (…) parafraseia Euclides da Cunha, nos fazendo dar um passo ao lado na compreensão, e diz assim: “o sertanejo é antes de tudo um paciente”. A paciência toma o lugar da força, ou se acresce a ela. A paciência é talvez força contida, força que permanece, que se repete, que não alcança de uma vez a vitória. Paciência parece ser o que nos pede o tempo presente. Não uma paciência frouxa, sem lastro, que seria apenas um modo vazio de esperar pela mudança dos tempos. Mas sim a paciência sertaneja, fruto da força que resiste. Paciência que se faz na ação que se sabe ainda insuficiente e, portanto, sujeita a fracassos e recomeços. Paciência que garante a força de levantar após a queda, recomeçar após a destruição, resistir enquanto for preciso. Paciência do cacto que guarda em si a água que é escassa e que garante sua sobrevivência.

Marília Murta de Almeida. “O sertanejo”. In: https://faculdadejesuita.edu.br/fajeonline/palavra-presenca/o-sertanejo/

Meditação:

O que faz alguém ser uma pessoa paciente? Qual a relação entre a paciência e a força? O Passo a Pensar de hoje quer nos ajudar a refletir sobre isso, a partir de um trecho do texto “O sertanejo”, da pesquisadora e professora de filosofia Marília Murta de Almeida. Escutemos o que ela nos diz:

Marília Murta, para refletir sobre o tipo de paciência de que necessitamos neste tempo, coloca-nos diante de um grupo de pessoas concretas, com uma cultura rica, resistente e resiliente: os sertanejos. Traga à memória rostos e sentimentos relacionados aos homens e mulheres dos sertões do Brasil.

A professora, citando Euclides da Cunha em sua obra clássica “Os Sertões”, fala da força dos sertanejos. Esta força brota da necessidade de encontrar caminhos de sobrevivência e de empenhar-se na luta pela vida e pelo seu modo de organização social. Você tem consciência de que a sobrevivência não é algo óbvio para todos? De que modo suas lutas fizeram de você uma pessoa mais forte?

Marília Murta, fazendo eco à voz feminina de Clarice Lispector, destaca a paciência como um modo de ser forte. Trata-se de um uso da força que nos torna pessoas capazes de esperar ativamente, de não desesperar diante das frustrações e fracassos e de viver tantos recomeços ao longo da vida. Você tem aprendido a transformar sua força em paciência? Como você pode aprender isso com os outros, como os sertanejos?

O Passo a Pensar de hoje vai chegando ao fim. Você concorda com a reflexão proposta? Que pontos merecem um maior aprofundamento?

A Faculdade Jesuíta deseja que todos sejamos pessoas fortes, pacientes e cheias de vida!

Música: Kawil (gaivota, em língua mapuche). © 2016, Cristóbal Fones, SJ

Produção e apresentação: Lucimara Trevizan e Francys Silvestrini Adão SJ