Estamos reféns dos padrões que a sociedade, a escola, a família, os círculos de amigos nos impuseram. Às vezes, deixamos de saber quem somos porque queremos, simplesmente, agradar aos que partilham mundo conosco. Não nos incendiemos: os outros também não têm “culpa” dos padrões que os controlam. Tudo está enleado há muitas gerações, muitos ciclos viciados e repetidos. Vivemos numa sociedade obcecada com a “normalidade” quando nada do que nos acontece parece sê-lo. Vivemos num mundo em que os que correm para o mesmo lado são os mais aplaudidos e em que se deixam sozinhos os que querem andar ou, até, ficar parados, num canto, a ouvir os pássaros. Vivemos em comunidade, mas escolhemos o nosso umbigo, as nossas necessidades, as nossas manias como regentes de tudo o que fazemos e queremos. Que espécie de mundo é este em que só podemos ser o que está escrito nos livros antigos? Não poderemos, nós, escrever livros novos? Com páginas a estrear? Que espécie de pessoas somos se continuamos a olhar de lado para os que pensam diferente, escolhem diferente, amam diferente? Que espécie de futuro oferecemos aos mais novos se lhes enchemos as mochilas de tarefas, competições, expectativas, pressões e muito pouco amor? As perguntas ficam contigo. Que também contas para as respostas que se escreverem. O que te parece? Arriscamos a escrever diferente?
Marta Arrais. “Quão bem te conheces?”. In: https://www.imissio.net/artigos/49/4405/quao-bem-te-conheces/
Meditação:
Como lidamos com as normas e os padrões, quando o que está em jogo é a formação de nossa própria identidade? Aceitamos viver uma vida inédita? O Passo a Pensar de hoje quer nos ajudar a refletir sobre isso, a partir do texto “Quão bem te conheces?”, da professora e cronista portuguesa Marta Arrais. Escutemos o que ela tem a nos dizer:
Marta Arrais apresenta um risco que todos corremos: no desejo de agradar aos outros, nós nos tornamos reféns de padrões de vida impostos de fora e acabamos por não saber quem realmente somos ou queremos ser. Você identifica isso em si e à sua volta? Sente o peso desta pressão?
A cronista fala da obsessão por uma certa ideia de normalidade e pelo reconhecimento dos iguais. Como consequência, aparecem dois extremos: ou o apagamento da pessoa num grupo indiferenciado ou o autocentramento que faz do sujeito o critério único de julgamento da realidade, fechado às diferenças. Como você identifica essas forças de homogeneização? Vê isso em nossa sociedade?
Marta, como uma boa professora, termina seu texto com uma série de questões. Nelas encontramos sua aposta na novidade, na vida inédita de cada um, no valor das diferenças, em nossa capacidade de arriscar e ousar novas formas de pensar, escolher e amar. Que resposta você daria a essas questões?
Vamos chegando ao fim de mais um Passo a Pensar. Em que pontos a reflexão de hoje mais lhe inspirou e provocou?
A Faculdade Jesuíta deseja que cada um de nós ouse ser uma palavra humana inédita neste mundo!
Produção e apresentação: Lucimara Trevizan e Francys Silvestrini Adão SJ
Música: Crepúsculo. © 2016, Cristóbal Fones, SJ