Clarice Lispector, na pequena crônica “Uma esperança”, diz que a esperança “é o que nos sustenta sempre”, apesar de ser frágil e quase sem corpo, como o inseto de mesmo nome. A esperança, então, frágil e quase sem corpo, é o que mantém de pé o ser humano. Em outra vertente, o bispo e poeta Pedro Casaldáliga disse em uma celebração a seguinte mensagem que pedia ao povo que o ouvia que repetisse, mais de uma vez: “podem nos tirar tudo, menos a fiel esperança”. Se juntarmos as duas ideias, podemos dizer que a esperança frágil e quase sem corpo é fiel a nós, nos sustenta e não nos deixa. Não nos podem tirar a esperança porque ela está em nós como que entrelaçada ao que constitui o ser que somos. Vivemos no tempo e no tempo tecemos nossa história. A esperança aponta para o futuro e orienta nossa ação na direção apontada. A esperança, portanto, não é algo que nos vem de fora. Não é a tábua em que nos apoiamos quando parece que estamos prestes a sucumbir. Ela está em nós, faz parte do que somos. A esperança fala quando tudo parece ter sido retirado, fala a nos lembrar que ainda está lá e que, enquanto estiver, estamos vivos. A sua fragilidade vem do fato de que não tem poder de ação no mundo. (…) Seu poder é o de nos manter em ação, movidos por ela. A esperança sustenta em nós o desejo pela vida e esse desejo nos mantém ativos na vida e no mundo.
Marília Murta de Almeida. “Sobre a esperança”. In: https://faculdadejesuita.edu.br/sobre-a-esperanca/
Meditação:
Qual é a importância da esperança em nossa vida? O que seria uma existência humana sem esperança? O Passo a Pensar de hoje quer nos ajudar a refletir sobre isso, a partir do texto “Sobre a esperança”, da pesquisadora e professora de filosofia e teologia Marília Murta de Almeida. Escutemos o que ela nos diz:
Marília Murta, em diálogo com Clarice Lispector e Pedro Casaldáliga, apresenta duas características da esperança: a fragilidade e a fidelidade. E sua função também é dupla: sustentar-nos e fazer-nos companhia, diante de uma falta. Você reconhece estas características e funções da esperança em sua experiência pessoal?
A professora afasta a ideia de uma esperança exterior a nós, imposta de fora – o que poderia ser uma ilusão –, para reconhecê-la vinculada à nossa própria condição de humanos. Ser gente, permanecer vivos, construir a própria história: tudo isso seria impossível sem a esperança. Como você identifica a esperança em suas relações e atividades cotidianas?
Marília Murta reflete sobre o limite da esperança. Ela não exerce nenhuma ação sobre o mundo. Seu poder se reduz ao que ela pode produzir em nós: uma pessoa com esperança permanece em movimento, continua a sonhar e se engaja para concretizar este sonho no mundo. Você consegue diferenciar a relação com o mundo de uma pessoa com esperança e outra desesperançada?
O Passo a Pensar de hoje vai chegando ao fim. Que pontos desta reflexão merecem um maior aprofundamento?
A Faculdade Jesuíta deseja que nossa esperança e desejo de viver nos engajem na construção de um mundo mais bonito e mais humano!
Música: Sonho © Francys Adão SJ (Arranjo de PC Bernardes)
Produção e Locução: Lucimara Trevizan e Francys Silvestrini Adão SJ