O medo de ser frágil

Nos últimos meses, a imprensa apresentou notícias de problemas de saúde de vários líderes de nossa sociedade. Nada de novo nisso. Líderes políticos e religiosos (…) são pessoas que vivem os percalços e as vicissitudes de nossa condição humana. Mas, o que chama a atenção, é a forma como essas notícias são anunciadas. Primeiro, tenta-se esconder e depois negar. Em seguida, dizem que é um procedimento de rotina. Finalmente, admite-se o problema de saúde quando a internação é inevitável. Apresenta-se o quadro, sempre fazendo questão de dizer que a pessoa descansou bem, e que em breve deverá retomar o trabalho, que o problema foi resolvido e que tudo está em sua mais completa normalidade. (…) Ora, essa dinâmica de esconder, escamotear ou minimizar nossos percalços, é só isso mesmo? Não tem, como pano de fundo, um ideal sobre-humano que, mais do que nos ajudar em nosso processo de humanização, acaba nos desumanizando e nos cegando para nossas dores e as dores alheias? Um ideal de perfeição, fortaleza, beleza e brilhantismo (…) não nos torna menos sensíveis à vulnerabilidade humana e à incapacidade que caracteriza nossas vidas, especialmente, na infância, na velhice e em momentos de enfermidade física e psíquica? (…) Acolher essa dimensão fundamental de nossa humanidade, em nós mesmos e nos outros, olhá-la com carinho e compreensão, agir em prol da construção de uma sociedade onde nossas fragilidades sejam cuidadas, é profundamente humano. Eu acredito que esse é o único caminho para construirmos uma sociedade da solidariedade, da fraternidade e do cuidado recíproco.

Elton Vitoriano Ribeiro SJ. “Quem tem medo da fragilidade humana?”. In: https://faculdadejesuita.edu.br/quem-tem-medo-da-fragilidade-humana/

Meditação:

Como lidamos com nossos limites físicos, psíquicos e espirituais? Por que nos é difícil encarar de frente nossas fraquezas? O Passo a Pensar de hoje quer nos ajudar a refletir sobre isso, a partir de um trecho do texto “Quem tem medo da fragilidade humana?”, do professor e filósofo jesuíta Elton Vitoriano Ribeiro. Escutemos o que ele nos diz:

Elton Ribeiro parte de um dado midiático. O modo como os meios de comunicação noticiam as enfermidades dos líderes políticos e religiosos diz algo inquietante sobre a maneira como todos nós lidamos com nossos limites: a tendência a mascarar, esconder, minimizar nossa fragilidade. Você percebe esta tendência nos noticiários e nas redes sociais? Você identifica esta mesma atitude dentro de você?

O professor interpreta este fenômeno como o resultado de um ideal de vida que não corresponde à nossa experiência humana real. Mas não se trata de um ideal que nos impulsiona a ir mais longe: este ideal sobre-humano acaba por nos cegar, induzir a uma negação da realidade e nos levar a uma possível desumanização. Que ideais são veiculados no mundo contemporâneo? Eles são humanizadores?

Elton Ribeiro, ao final de sua reflexão, explicita o único caminho de humanização que está ao nosso alcance: acolher nossa humanidade como ela é. E ao abraçar nossa humanidade com suas dores e fragilidades, aprenderemos também a cuidar dos sofrimentos e da vulnerabilidade dos outros, que vivem à nossa volta. Como você escuta esta proposta? As pessoas que cuidam de outras são super-humanos ou simplesmente humanos conscientes de sua própria fragilidade?

O Passo a Pensar de hoje vai chegando ao fim. Gostaria de aprofundar algum ponto desta reflexão?

A Faculdade Jesuíta deseja que todos sejamos inteiramente humanos e, por isso, capazes de cuidar das fragilidades uns dos outros!

Música: It Is Well With My Soul – Horatio G. Spafford/Philip P. Blis © CD Sanctus – Paulinas.

Produção e Locução: Lucimara Trevizan e Francys Silvestrini Adão SJ