Qual a origem do mundo? A vida tem alguma finalidade? O que é o tempo? A felicidade é alcançável? Perguntas como essas, como tantas outras semelhantes, ressoam incessantemente em todas as épocas e lugares, como testemunham as lendas e os mitos de todas as culturas. Espanta, contudo, que ninguém, nem o mais profundo filósofo, pode abrigar a pretensão de respondê-las, pois toda resposta acaba por recolocar a questão em uma outra perspectiva ainda não examinada, a suscitar menos certezas e mais dúvidas. Talvez, por isso mesmo, essas perguntas que não podem ser silenciadas tenham sentido, justamente, porque não podem ser respondidas. Se o fossem, elas cessariam e o ser humano, amordaçado pelas respostas, interditado em suas inquietações, perderia a sua condição peregrinante e mergulharia na mudez das pedras. (…) Especular envolve um outro olhar que não se prende e não se consome no imediato das sensações e nos convida a ir para além do estreito círculo dos nossos afazeres e para nos entregarmos em um jogo de pensamento semelhante à experiência que temos quando, fascinados por algum objeto, como uma obra de arte, a examinamos detidamente, explorando-a em todos os seus ângulos e perfis. Quando construímos a imagem de um mundo inteiramente sedado, sem inquietações e angústias, sem mais propor perguntas irrespondíveis e atolado nas satisfações e mazelas quotidianas, então recuamos horrorizados, pois vislumbramos que nele estaria consumada a desumanização do humano.
Carlos Roberto Drawin. “Um Eu enlouquecido?”. In: https://faculdadejesuita.edu.br/um-eu-enlouquecido/
Meditação:
Toda pergunta precisa de uma resposta prática e definitiva? De que forma a atitude de constante interrogação nos humaniza? O Passo a Pensar de hoje quer nos ajudar a refletir sobre isso, a partir de um trecho do texto “Um Eu enlouquecido?”, do professor e filósofo Carlos Roberto Drawin. Escutemos o que ele nos diz:
Carlos Drawin cita um conjunto de perguntas que têm sido continuamente repetidas por muitas gerações e por grupos culturais diferentes. O que há em comum em todas elas é o fato de não poderem ser respondidas de uma vez por todas. Em consequência, elas são sempre geradoras de novas questões. Você percebe a diferença entre uma pergunta informativa e uma interrogação geradora de sentido? Como lida com esta diferença?
O professor expõe um tipo de questionamento que não é aquele do interesse imediato e do senso prático. Trata-se da especulação, um outro tipo de olhar para o mundo que, sem desvalorizar as sensações e os afazeres, nos leva a aprofundar nossa relação com a realidade, por meio de um jogo de interações no qual há sempre algo novo a ser descoberto. Você dá espaço na sua vida para este tipo de jogo, um exercício especulativo para além das respostas úteis e imediatas?
Carlos Drawin não considera a existência das perguntas irrespondíveis como algo de menor importância. Na realidade, o que está em jogo é nossa condição de seres humanos, abertos, livres e peregrinos. As inquietações, as incertezas, as dúvidas também nos colocam num fundamental movimento humanizador. Quais são as perguntas irrespondíveis que lhe movem? Como elas colaboram em sua humanização?
O Passo a Pensar de hoje vai chegando ao fim. Gostaria de aprofundar algum ponto desta reflexão?
A Faculdade Jesuíta deseja que vejamos cada pessoa humana como uma pergunta em busca de respostas sempre abertas!
Música: Crepúsculo © 2016, Cristóbal Fones, SJ
Locução: Lucimara Trevizan e Francys Silvestrini Adão SJ