O Novo Testamento

Johan Konings SJ

Nós, os cristãos, acreditamos que esse novo testamento veio com Jesus de Nazaré, ao qual chamamos de Cristo, palavra grega que significa Messias, Ungido de Deus, estabelecido por Deus para ser o nosso líder.

Jesus dá uma compreensão ao mesmo tempo mais profunda e mais atual da Aliança que estava registrada nas escrituras de Israel, e que nós ainda conservamos em nossa Bíblia cristã, porque a Antiga Aliança tinha muita coisa valiosa e porque assim podemos fazer a comparação com o espírito novo, o espírito que Cristo impinge à tradição antiga, conforme o que diz o evangelista São João na sua primeira carta:

o mandamento é antigo, mas ele é novo em Cristo e em nós.

Podemos dizer que em vez do Êxodo com Moisés, que era o ponto de referência do Antigo Testamento, o novo ponto de referência é Jesus, que com a oferta de sua vida marcou a Nova Aliança, inclusive com seu sangue, assim como a primeira aliança foi celebrada com um sacrifício de novilhos no monte Sinai.

Os sangue significa a vida. Mesmo se Jesus tivesse morrido de outra maneira que não pregado na cruz, a Nova Aliança teria a marca de sua vida. Essa novidade, esse novo espírito, nos o encontramos, de maneira exemplar, no Sermão da Montanha, no início do Evangelho segundo Mateus.

É um anúncio do Reino de Deus. Significa que o reinado do Deus está começando entre nós.Claro, Deus governa sempre o mundo, mas nem sempre entre nós…Esse reino de Deus é anunciado e prometido em primeiro lugar aos pobres.Isso é uma resposta à veneração da prosperidade, que existe na cabeça de muitos, quando pensam que a bênção de Deus se exprime na sorte e na riqueza material.

No regime em que Deus manda os primeiros destinatários são os pobres.Os ricos também são incluídos, se forem justos, generosos, promotores da paz, colocando-se ao lado dos pobres. Pois na desigualdade não pode haver paz.

As bem-aventuranças mostram o espírito desse reinado de Deus. É uma revolução mental radical,que atinge o mais profundo do nosso coração – como a Nova Aliança de que falava o profeta Jeremias, gravada, não mais em duas tábuas de pedra, mas em nossos corações.

Os valores geralmente aceitos na sociedade são postos de cabeça para baixo.Deus é o Pai de todos, de bons e de maus. Para Deus, todos são irmãos.E os que mais precisam, vêm em primeiro lugar, como numa família que se preze. Isso muda o modo de agir. Não vamos fazer o bem apenas a quem nos agrada, mas até aos nosso inimigos, porque Deus olha por estes também.

O que chamamos a Nova Aliança ou o Novo Testamento é essencialmente isso aí. É uma nova Lei, uma nova regra de vida, uma nova torah, como diriam os judeus.

Jesus era judeu, e se entretinha também com os mestres judeus.Um deles lhe pediu para resumir a regra de vida, a Lei. Jesus respondeu, resumindo duas regras que já estavam no Antigo Testamento, mas separadas, não unidas, porque não se tinha percebido que faziam uma unidade:

amar a Deus acima de tudo e ao próximo como a se fosse a gente mesmo.

E quando, segundo o evangelista Lucas, o mestre judeu perguntou quem seria esse o próximo, Jesus respondeu: o próximo não existe de antemão, é aquele que precisa de que você se torne próximo dele – como fez o Bom Samaritano.

E Jesus ensina também o perdão, pois Deus não quer que o pecador morra, mas que viva.

Tudo isso está na oração do Pai-Nosso, ensinado no centro do Sermão da Montanha.

Mas a palavra não basta, ela deve ser confirmada por gestose ações.Diz São João, em sua carta: devemos amar não só com palavras, mas com atos e de verdade. As ações são a verdade de nossas palavras.Jesus deu o exemplo disse.

Quando as autoridades começaram a achar suas palavras inconvenientes, ele não voltou atrás, mas insistiu, até que decidiram matá-lo, e assim ele morreu uma morte sangrenta e infame na cruz, conforme os cruéis costumes humanos daquele tempo – que existem ainda hoje.

Mas antes de morrer, e bem consciente daquilo que estava para acontecer,ele reuniu seus discípulos próximos, os doze, que representavam o novo povo de Deus, e fez com eles uma última ceia, marcando a nova Páscoa, em que ele significou o pão como seu corpo entregue à morte por nós, e o vinho como o sangue derramado em sinal da Nova Aliança,

assim como a primeira aliança fora marcada com o sangue dos animais imolados por Moisés.Jesus uniu em sua figura o Cristo ou Messias esperado pelos judeus – mas em outros moldes – e a figura do Servo Sofredor que dá a vida pelos seus irmãos, descrito pelo profeta Isaías.

A Nova Aliança é isso aí, e o Novo Testamento na Biblia é aparte que guarda isso aí. É a chave de leitura do Antigo Testamento. Devemos ler o antigo através do novo.