Viver, como talvez morrer, é recriar-se: a vida não está aí apenas para ser suportada nem vivida, mas elaborada. Eventualmente reprogramada. Conscientemente executada. Muitas vezes, ousada.
Parece fácil: “escrever a respeito das coisas é fácil”, já me disseram.Eu sei. Mas não é preciso realizar nada de espetacular, nem desejar nada excepcional. Não é preciso nem mesmo ser brilhante, importante, admirado.
Para viver de verdade, pensando e repensando a existência, para que ela valha a pena, é preciso ser amado; e amar; e amar-se. Ter esperança; qualquer esperança.
Questionar o que nos é imposto, sem rebeldias insensatas mas sem demasiada sensatez. Saborear o bom, mas aqui e ali enfrentar o ruim. Suportar sem se submeter, aceitar sem se humilhar, entregar-se sem renunciar a si mesmo e à possível dignidade.
Sonhar, porque se desistimos disso apaga-se a última claridade e nada mais valerá a pena. Escapar, na liberdade do pensamento, desse espírito de manada que trabalha obstinadamente para nos enquadrar, seja lá no que for.
E que o mínimo que a gente faça seja, a cada momento, o melhor que afinal se conseguiu fazer.
Meditação:
O que é próprio do modo humano de viver? Ousamos assumir a aventura de uma existência aberta, feita de tantas escolhas fundamentais? O Passo a Pensar de hoje nos propõe refletir sobre isso, com a ajuda de um texto da tradutora e escritora Lia Luft.
Lia Luft chama a atenção para uma existência simples, sem busca do extraordinário. É na simplicidade e na vida cotidiana que a vida é, continuamente, reinventada, reelaborada, ousada.Dou-me conta da quantidade de gestos, escolhas, encontros que acontecem em cada dia de minha vida?
A escritora fala de bases sólidas para a vida. Bases relacionais, ancoradas no presente: amar, deixar-se amar, amar-se. Mas também bases criativas, que nos lançam para o futuro: ter esperança e sonhar! Como tenho cultivado o amor, a esperança e o sonho, essas bases relacionais e criativas de minha vida?
Viver humanamente é sempre um desafio: trata-se de escapar do “espírito de manada”, ou seja, aceitar viver de modo único, singular, incomparável. Nenhuma vida está pré-traçada, mas vai se construindo naquilo que escolhemos saborear, acolher ou renunciar. Como tenho abraçado este desafio, esta aventura da vida?
Vamos chegando ao fim de mais um Passo a Pensar. Que pontos desta reflexão você gostaria de aprofundar?
A Faculdade Jesuíta deseja que sua vida seja uma constante, bela e feliz recriação!
Texto:Lya Luft. Pensar é transgredir. Rio de Janeiro, Record, 2004, p. 21-23.
Locução: Lucimara Trevizan e Francys Silvestrini Adão SJ
Música: Crepúsculo © 2016, Cristóbal Fones, SJ