A arte de ser feliz


Será que é possível aprender a ser feliz? Será que a felicidade é um privilégio concedido a uns poucos ou está ao alcance de todos? Para nos ajudar a refletir sobre essas questões, o Passo a Pensar de hoje nos propõe o texto “A arte de ser feliz”, da poeta e escritora Cecília Meireles. Escutemos o que ela nos diz:

Houve um tempo em que minha janela se abria sobre uma cidade que parecia ser feita de giz. Perto da janela havia um pequeno jardim quase seco. Era uma época de estiagem, de terra esfarelada, e o jardim parecia morto. Mas todas as manhãs vinha um pobre com um balde, e, em silêncio, ia atirando com a mão umas gotas de água sobre as plantas. Não era uma rega: era uma espécie de aspersão ritual, para que o jardim não morresse. E eu olhava para as plantas, para o homem, para as gotas de água que caíam de seus dedos magros e meu coração ficava completamente feliz. Às vezes abro a janela e encontro o jasmineiro em flor. Outras vezes encontro nuvens espessas. Avisto crianças que vão para a escola. Pardais que pulam pelo muro. Gatos que abrem e fecham os olhos, sonhando com pardais. Borboletas brancas, duas a duas, como refletidas no espelho do ar. Marimbondos que sempre me parecem personagens de Lope de Vega. Às vezes, um galo canta. Às vezes, um avião passa. Tudo está certo, no seu lugar, cumprindo o seu destino. E eu me sinto completamente feliz. Mas, quando falo dessas pequenas felicidades certas, que estão diante de cada janela, uns dizem que essas coisas não existem, outros que só existem diante das minhas janelas, e outros, finalmente, que é preciso aprender a olhar, para poder vê-las assim.

Meditação:

Cecília Meireles nos conta, com poesia, uma cena da qual ela era apenas uma testemunha: uma pessoa pobre que, com zelo quase religioso, cuida de um jardim seco, para que as plantas não morram. O simples ato de observar este gesto encheu de felicidade o coração da poeta. Você já teve esta experiência de sentir-se feliz ao observar um gesto cuidadoso de outra pessoa? Tente trazer à memória algum fato concreto.

A poeta continua sua narrativa. Ela também se sentia feliz ao observar o ritmo da vida: a beleza das flores, dos animais ou das nuvens, os humanos e suas invenções em movimento… Mas, para isso, ela teve que realizar um único gesto: abrir a janela. Você tem se permitido abrir as janelas de sua casa e de seu coração, para ver e admirar a vida em movimento?

Diante de uma experiência de felicidade tão acessível a todos, Cecília fala de algumas possíveis reações: ceticismo ou negação; pessimismo ou inveja; e, por fim, disposição a aprender, a mudar o olhar, a despertar. Em qual grupo de pessoas você se encontra? Acredita nessas pequenas felicidades certas, que são igualmente oferecidas a todos?

Vamos chegando ao fim de mais um Passo a pensar. Há algum ponto desta reflexão que você queira aprofundar e revisar?

A Faculdade Jesuíta deseja que tenhamos a alegria de enxergar a vida e sua força de modo sempre novo!

Texto: Cecília Meireles. “A arte de ser feliz”. In: https://www.escritas.org/pt/cecilia-meireles.

Locução: Lucimara Trevizan e Francys Silvestrini Adão sj

Música: © CD Sanctus – Paulinas.