Desde há milênios a sabedoria bíblica repete: “Onde há um homem ou uma mulher, há procura de vida, desejo de felicidade”. Esta, na realidade, é a vocação mais radical que habita o ser humano. (…) Mas o ser humano pode ser arrastado por este desejo, deixando de saber discernir os necessários limites, e assim o desejo, de vocação, arrisca tornar-se em instinto mortífero. (…) O desejo de obter aquilo que não se tem ou de se tornar aquilo que não se é, se não é disciplinado e contido, desencadeia inveja e rancor para com as pessoas que beneficiam dessas condições, como alguém chegou a dizer: “Eram felizes, eu não, por isso matei-os”. Este desejo muda o olhar (…). O olhar alterado vive do confronto e da comparação, vê a carência e o sofrimento como sendo causados por quem, ao contrário, é feliz, tem sucesso, recebe reconhecimentos, tem riqueza. Assim, a existência é envenenada pelo confronto que faz emergir sem cessar a pergunta: “Porquê a ele sim, e a mim não?”. Vivemos hoje uma estação de incerteza e rancor social, que acaba por suscitar tentações de inveja, e portanto de violência, sobretudo em pessoas “infelizes” (…) Uma só é a certeza, sob a forma de pretensão: tem de se ser feliz a todo o custo. (…) Disciplinar o desejo deveria ser uma verdadeira exigência da educação, sobretudo nos jovens, mas na realidade é um exercício necessário em cada idade da vida: então, sim, é possível construir a felicidade.
Enzo Bianchi. “Não há felicidade sem disciplinar o desejo”. Disponível em: https://www.centroloyola.org.br/revista/outras-palavras/desdobramentos/2186-nao-ha-felicidade-sem-disciplinar-o-desejo
Meditação:
Como lidamos com nosso desejo de felicidade? Ele nos liberta ou nos escraviza? O Passo a Pensar de hoje quer nos ajudar a refletir sobre isso, a partir do texto “Não há felicidade sem disciplinar o desejo”, do monge e escritor italiano Enzo Bianchi. Escutemos o que ele nos diz:
Para Enzo Bianchi, a vocação humana encontra-se na procura de mais vida, no profundo e radical desejo de ser feliz. No entanto, a força deste desejo pode provocar desordens internas e escravizar a pessoa. Como tenho lidado com meu desejo de felicidade? Sinto-me livre diante das frustrações da vida?
O monge italiano nos dá algumas pistas para verificarmos a qualidade de nosso desejo. Ele fala de uma possível alteração do olhar, que conduz à inveja, ao rancor, ao confronto, à comparação e, por fim, à violência contra o outro. Percebo em mim e à minha volta essas tentações? Como lido com a felicidade dos outros que me são próximos?
Enzo Bianchi fala de uma necessária disciplina do desejo. Sair de um instinto e abraçar uma vocação livre. Esse caminho de humanização supõe dar-se limites, alegrar-se com o outro, não se submeter a uma busca de felicidade inescrupulosa, a qualquer custo. Como tenho disciplinado e educado meus desejos?
Vamos chegando ao fim de mais um Passo a Pensar. Em que pontos a reflexão de hoje mais lhe inspirou e provocou?
A Faculdade Jesuíta espera que você deseje, procure e encontre, com maturidade, o caminho de uma vida feliz!
Locução: Lucimara Trevizan e Francys Silvestrini Adão SJ
Música: Be Thou My Vision – J.H. Desrocquettes/Ancient Gaelic © CD Sanctus – Paulinas.