A quaresma é um segmento do chamado ano litúrgico onde, numa experiência circular da história, os crentes repetem e atualizam nas suas vidas o impacto da salvação de Cristo. De fato, não se trata apenas de fazer memória das várias etapas da existência histórica de Jesus, mas de receber e maturar, a essa luz, uma nova visão deles próprios. Nesse sentido, não admira que, por exemplo, Carl Jung tenha individuado nos diversos momentos do ano litúrgico uma espécie de sistema terapêutico, pois os ritos são também essenciais ferramentas de cura. Importa, por isso, libertar a quaresma dos reducionismos que a neutralizam. A casuística e a moleza acomodatícia depressa desfiguram o espírito e, aquilo que nos é oferecido como uma oportunidade de aprofundar com autenticidade a vida, descamba numa enésima forma de escapismo. Gosto do modo como um clássico contemporâneo, Romano Guardini, define a liturgia: é uma expansão da vida que toma posse da sua plenitude, já que os tempos e os rituais litúrgicos não são coisas que criamos, mas obras de arte que somos ou em que nos tornamos.
José Tolentino Mendonça. “A quaresma como terapia”. In: https://www.imissio.net/artigos/53/3997/a-quaresma-como-terapia-por-tolentino-mendonca/?fbclid=IwAR3q7S2NFx7rQieEvfA4OWeaV-rwZF10VJU3E_TK42-73bHFmW_dQ8RSik4
Meditação:
Os cristãos católicos vivem um tempo especial, o tempo da quaresma, que pode ser um tempo de repetição, de escapismo ou de cura. O Passo a Pensar de hoje quer nos ajudar a refletir sobre isso, a partir do texto “A quaresma como terapia”, do biblista, poeta e cardeal José Tolentino Mendonça. Escutemos o que ele nos diz:
José Tolentino Mendonça fala da importância de se deixar impactar novamente pela oferta de salvação em Jesus Cristo. Ao olhar para a vida e a entrega deste homem concreto, uma nova visão sobre nós mesmos pode surgir e amadurecer. A tão ouvida história de Jesus ainda me impacta, me ilumina? Como tenho aproveitado este tempo particular?
O poeta fala de algo curioso: a alternância dos ritos, das narrativas, dos tempos pode ter uma função terapêutica: são como instrumentos de cura. Mas, para receber esta cura, é importante não querer escapar da própria vida, mas aprofundar sua autenticidade, com suas dores e delícias. Já havia parado para pensar na importância destes ritos, destas paradas em meu tempo comum?
Tolentino, citando o teólogo Romano Guardini, fala do auxílio da liturgia para experimentar uma expansão da vida, dar um passo a mais rumo à plenitude. Dito de outra maneira: podemos tomar consciência da obra de arte que nós somos ou, ainda, daquela que podemos vir a ser. Já imaginei minha vida como uma obra de arte? Tenho me deixado modelar pelo amor e pela entrega dos outros?
Vamos chegando ao fim de mais um Passo a pensar. Em que pontos a reflexão de hoje mais lhe inspirou e provocou?
A Faculdade Jesuíta deseja que deixemos fluir em nós a força curativa do Amor que vai até o fim!
Locução: Lucimara Trevizan e Francys Silvestrini Adão SJ
Música: It Is Well With My Soul – Horatio G. Spafford/Philip P. Blis © CD Sanctus – Paulinas.