A experiência atual de confronto com o sofrimento e a morte de tantas pessoas, de distintas idades, e perfis de saúde, expôs a fragilidade da vida humana e com ela, o desejo de preservá-la. A busca pela vida implica, neste cenário, uma compreensão e uma reorientação: a compreensão de que viver bem é proteger-se e proteger a outros e, assim, reorientar as dinâmicas diárias de cada um para essa finalidade. Isto significa adquirir novos hábitos nos quais o auto isolamento, por exemplo, tem o intuito de favorecer um bem comum. Há, dessa forma, um nítido senso de orientação social, muito diferente de uma preocupação restrita a interesses individuais. As ações de um indivíduo têm claro impacto sobre a vida em sociedade, quando se consideram as tramas que se entrelaçam por meio das relações estabelecidas na vida de uma pessoa. (…) A situação de dependência, como característica inerente à experiência humana, mostra-se acentuada durante a pandemia, para além das questões econômicas, que em si mesmas já são importantes de serem consideradas. Não somente com relação às crianças, às pessoas com algum tipo de doença física ou mental, ou às pessoas idosas, pelas suas condições próprias de vulnerabilidade. A população adulta, fora destas particularidades, vê-se também vulnerável e dependente da cooperação uns dos outros. Sua eticidade individual é confrontada em dois níveis. Em primeiro lugar, para proteger as populações mais propensas a desenvolver quadros agudos da Covid-19. Num segundo momento, para protegerem-se a si mesmos e à sociedade, não somente como população economicamente ativa, mas como população eticamente responsável.
Eduardo Carvalho da Silva e Elton Vitoriano Ribeiro. “A pandemia da Covid-19 e o exercício das virtudes”. In: https://faculdadejesuita.edu.br/fajeonline/palavra-presenca/a-pandemia-da-covid-19-e-o-exercicio-das-virtudes/
Meditação:
Diante de uma crise pandêmica, alguns traços existenciais e éticos de nossa humanidade são postos à prova. Para nos ajudar a refletir sobre isso, o Passo a Pensar de hoje traz um trecho do texto “A pandemia da Covid-19 e o exercício das virtudes”, escrito por dois jesuítas – um estudante e um professor de filosofia –, Eduardo Carvalho da Silva e Elton Vitoriano Ribeiro. Escutemos o que eles têm a nos dizer:
Eduardo e Elton fazem referência a uma dupla tomada de consciência que brota da experiência do sofrimento: todos somos frágeis, mas desejamos preservar a vida. E é justamente esta busca pela vida que reorienta as nossas práticas e escolhas cotidianas. Você tem feito esta experiência? Que novas práticas de preservação você identifica à sua volta?
Para os autores jesuítas, a dupla consciência da fragilidade e do desejo de vida aponta para uma terceira dimensão: não há preservação da vida sem uma atitude de cuidado consigo e com os outros. Assim, nosso impulso de autoproteção deve descobrir e abrir-se à nossa irrenunciável condição social. Você tem descoberto a vida e a dignidade como o grande bem comum de nossa humanidade?
Eduardo e Elton lembram que nossa vida adulta não é caraterizada, antes de tudo, pela atividade econômica, mas pela responsabilidade ética, ou seja, um modo virtuoso e justo de viver nossa interdependência, cooperando com outros em vista da proteção de todos. Você se percebe como uma pessoa eticamente adulta? O que ainda lhe falta?
O Passo a Pensar de hoje vai chegando ao fim. Você concorda com a reflexão proposta? Que pontos merecem um maior aprofundamento?
A Faculdade Jesuíta deseja que todos abracemos, com maturidade e compaixão, nossa responsabilidade ética!
Música: Be Thou My Vision – J.H. Desrocquettes/Ancient Gaelic © CD Sanctus – Paulinas.
Produção e apresentação: Lucimara Trevizan e Francys Silvestrini Adão SJ