O que modela nossa singularidade?

Somos feitos de pessoas. Das que nos querem bem e das que nos dão a conhecer a dor. Somos feitos de gente que se entrelaça nas linhas da nossa vida e que escrevem conosco o mistério da existência. Somos feitos de pessoas. Daquelas que de alguma forma nos deixaram a sua marca. Somos feitos de gente que se deixa revelar através de uma conversa cheia de olhares. Daqueles que nunca mais nos deixam na mesma. Daqueles a quem a sua ausência será para sempre preenchida com as memórias de uma presença cheia de vida. Somos feitos de pessoas. De quem nos leva o que de melhor temos. Somos feitos daqueles e daquelas que, através da dor causada, nos levam a descobrir-nos mais profundamente. Somos desenhados e moldados por quem um dia nos fez descobrir o poder da injúria, da traição e do interesse desmedido. Somos feitos de pessoas. Daquela gente que nos abraça por inteiro. Sem ser necessário um relato da nossa história. Somos feitos dessa gente que não se cansa de nos dar a conhecer o amor. O amor paciente. O amor genuíno. O amor silencioso. Somos feitos de pessoas. De gente que um dia nos olhou como inteiros. Aceitando o que somos e o que ainda podemos vir a ser. Somos feitos dessa gente que acredita sempre mais em nós do que nós próprios. Sim, somos construídos por esses homens e mulheres que veem sempre algo de especial na nossa forma de ser e de estar. São eles que vão dando sentido aos nossos passos.

Emanuel António Dias. “Somos feitos de pessoas”. In: https://www.imissio.net/artigos/49/4674/somos-feitos-de-pessoas

Meditação:

O que faz de nós quem nós somos? Quais são os fatores mais importantes que modelam nosso caráter? Para nos ajudar a refletir sobre isso, o Passo a Pensar de hoje traz um trecho do texto “Somos feitos de pessoas”, do cronista português Emanuel António Dias. Escutemos o que ele nos diz:

Emanuel António Dias traz, como um mantra muitas vezes repetido, uma afirmação forte: somos feitos de pessoas. E essas pessoas nos modelam a partir de dois ingredientes fundamentais: o querer bem e o conhecimento da dor. Traga à memória as pessoas que foram modelando sua identidade ao longo de sua vida: pais, irmãos, amigos, adversários, paixões…

O cronista português, pouco a pouco, amplia a lista dos gestos de outros que deixam marcas em nossa vida e nos fazem ser quem nós somos: conversas, olhares, ausências, injúrias, traições, interesses, abraços, amores, paciências, silêncios… Você reconhece em você mesmo a força desses gestos? Identifica as marcas deles em sua vida?

Emanuel não resume a influência dos outros aos seus gestos. Somos também feitos de apostas, da fé que outros depositam em nós, de um olhar que nos faz enxergar o que ainda podemos vir a ser. Os outros abrem, para nós, um futuro, revelam-nos uma identidade aberta. Você experimenta isso em suas relações? Que olhares fazem brotar em você dinâmicas de vida, de abertura e de novidade?

O Passo a Pensar de hoje vai chegando ao fim. Há algum ponto que você gostaria de revisitar ou aprofundar?

A Faculdade Jesuíta deseja que cada um de nós se alegre por ser único, única em relação!

Música: Kawil (gaivota, em língua mapuche). © 2016, Cristóbal Fones, SJ

Produção e Locução: Lucimara Trevizan e Francys Silvestrini Adão sj