A ditadura do pensamento positivo

Parece não haver espaço para pensar de outra forma que não seja a que rima com otimismo e positividade. Levaram-nos a crer que é errado chorar, que não devemos mostrar o que sentimos e que, se o fizermos, devemos mostrar sempre uma versão bonitinha, sublinhada daquele cor-de-rosa das nuvens que vemos nos desenhos animados. No entanto, a vida não é nada disso. Não é uma paisagem bonitinha nem simples, na maioria das vezes. Tem escarpas capazes de rasgar joelhos ou almas, trilhos que nos fazem perder o rumo e o norte, armadilhas que nos fazem resvalar todas as certezas e ideias pré-concebidas. É nesses dias que não precisamos que nos digam coisas como: “não fiques assim”, “olha para o lado bom de tudo isto”, “pensa positivo”. (…) É preciso olhar com respeito para os nossos pensamentos negativos. Para o mau. Para a raiva que pode existir. Para a tristeza. Para o desânimo. E encontrar espaços sérios e seguros dentro de nós para lidar com isto. O pensamento positivo não é, de certeza, uma solução. (…) Que saibamos pensar positivo quando for tempo disso e que saibamos “pensar negativo” quando sentirmos diferente do bom, da alegria e do que for feliz. Há espaço para tudo o que és. Há espaço para tudo o que somos. Ou, pelo menos, devia haver.

Marta Arrais. “A ditadura do pensamento positivo”. In: https://www.imissio.net/artigos/49/4790/a-ditadura-do-pensamento-positivo/

Meditação:

O otimismo e a positividade sempre nos fazem bem? Como lidamos com nossos sentimentos e pensamentos considerados negativos? Para nos ajudar a refletir sobre isso, o Passo a Pensar de hoje nos propõe um trecho do texto “A ditadura do pensamento positivo”, da cronista portuguesa Marta Arrais. Escutemos o que ela nos diz:

Marta Arrais chama a atenção para uma questão cultural. Desde nossa infância, parece haver uma pressão social para evitar sentir e falar dos sofrimentos, das dores, dos desconfortos próprios da vida humana. Mas isso pode mutilar a nossa experiência real da existência. Você encontra espaços onde pode ser você, falar de tudo o que está realmente sentindo?

A cronista faz menção ao modo como as pessoas próximas de nós, muitas vezes com muita boa vontade, acabam por dificultar nosso processo de nomeação de nossas dores, revoltas e angústias. Você percebe isso à sua volta? Como você acolhe as partilhas menos felizes de seus amigos e amigas?

Marta Arrais sugere, sobretudo, uma atitude de respeito diante de todas as experiências humanas. Além da alegria e da felicidade, também a raiva, a tristeza e o desânimo têm seu próprio lugar e colaboram em nosso processo de maturação e em nossa busca de autenticidade. Você sabe colher os frutos de todos esses movimentos interiores que a vida lhe proporciona?

Vamos chegando ao fim de mais um Passo a Pensar. Há algum ponto desta reflexão que você queira aprofundar e revisar?

A Faculdade Jesuíta deseja que nós aprendamos a criar espaços acolhedores para tudo o que nós somos!

Música: Morning Has Broken – Tradicional Gaelic Melody © CD Sanctus – Paulinas.

Produção e locução: Lucimara Trevizan e Francys Silvestrini Adão SJ