As eleições e o nome de Deus

No período que se segue ao primeiro turno das eleições, o Brasil vive quase que uma guerra santa, na qual uma das principais armas é o uso do nome de Deus ou da religião. Muitos católicos e evangélicos têm se deixado convencer por esse tipo de argumento, sem contar as inúmeras mentiras e Fake News veiculadas em tantas redes sociais, algumas delas pelos próprios representantes das religiões, padres, bispos, pastores. Mais do que nunca é preciso exercer o discernimento. A política não pode ser exercida pelo recurso ao nome de Deus, mas ela é o lugar do diálogo e dos consensos em busca do bem comum. Deus e a religião podem certamente inspirar os que nela estão implicados, mas não podem de forma alguma se identificar com nenhuma das tendências que aí estão. Deus é sempre mais, por isso, ele é a crítica radical de tudo o que as instituições e os esforços humanos buscam fazer para que o mundo seja melhor. Nesse sentido, Deus abre horizontes para o sonho de um mundo melhor, reconciliado, o que Jesus chamava de reino ou reinado de Deus. Oxalá, os fiéis brasileiros que se dizem seguidores da tradição judaico-cristã, tenham os olhos abertos e, mais ainda, os ouvidos para entender por detrás dos discursos o que é manipulação e expressão da abominação da abominação, escolhendo o que mais conduz à reconciliação da nação.

Geraldo De Mori SJ. “Deus” In: https://faculdadejesuita.edu.br/deus/

Meditação:

Que relação deve existir entre o nome de Deus e nossas instituições humanas? Como a religião pode exercer sua função crítica e utópica em relação à política? O Passo a Pensar de hoje quer nos ajudar a refletir sobre isso, a partir do texto “Deus”, do teólogo jesuíta Geraldo Luiz De Mori. Escutemos o que ele nos diz:

Geraldo De Mori aponta para um fenômeno curioso: nas eleições brasileiras, as tradicionais temáticas do mundo político – saúde, educação, cultura, economia, segurança – foram deixadas de lado, e o tema religioso tomou a dianteira, com um sério risco de partidarizar o nome de Deus. Você se deu conta desta mudança de assunto? O que pensa sobre isso?

O teólogo, seguindo a tradição dos profetas e dos Evangelhos, apresenta o Reino de Deus como uma instância que não se deixa identificar a nenhuma instituição humana. Esta não-identidade tem uma dimensão crítica, que nos faz reconhecer o quanto nos falta para chegarmos ao mundo sonhado por Deus, mas também uma dimensão utópica, pois nos convida a sonhar e a nos comprometermos com a busca dessa melhoria para todos. Como o sonho do Reino está presente em suas reflexões e escolhas políticas?

O jesuíta convida ao discernimento, capaz de manter os olhos, os ouvidos e o coração abertos, diante da realidade de nosso povo. Ao alertar para o perigo contínuo da profanação do nome de Deus e de seu Reino onde justiça e paz se abraçam, ele propõe o desejo de reconciliação como o grande horizonte do projeto e da vida de Jesus de Nazaré. Esses critérios lhe parecem inspiradores?

Vamos chegando ao fim de mais um Passo a Pensar. Em que pontos a reflexão de hoje mais lhe inspirou e provocou?

A Faculdade Jesuíta deseja que a fé nos abra ao sonho de um mundo onde todos vivam com dignidade!

Música: Wayra © 2016, Cristóbal Fones SJ

Locução: Lucimara Trevizan e Francys Silvestrini Adão SJ