A vida e seus mistérios

“Tudo se encontra aberto diante de nós. Tudo já vem traçado de antemão. Extremos sedutores, embora equivocados. O ser humano julga-se criador integralmente da própria história, do futuro. (…)

[Mas] A vida humana desmente-lhe continuamente a pretensão. (…) Se incertezas vêm do lado da natureza, maiores ainda provocam os seres humanos com sua liberdade. (…) Nossa arrogância e nossa petulância onipotentes esboroam-se diante de tais evidências. A tentação conduz-nos ao lado oposto. Se não dominamos a realidade, então entreguemo-nos ao destino, à fatalidade. (…) A lucidez traz-nos para o meio. Entre tudo dominar e a tudo submeter-nos, cabe-nos aprender a viver. Preparamos os espíritos para enfrentar as incertezas, os problemas da vida incontroláveis, as questões aleatórias na dupla atitude de serenidade e de confiança. (…) A lucidez aponta-nos para o caminho da previdência e da confiança na providência. Nem tanta previdência que nos neurotize, nem tanta providência que nos aliene. A história, a grande mestra da vida, ensina-nos lentamente o equilíbrio entre o que conseguimos de antemão prever e o que, em última instância, esperamos do Ser maior que nos ama e nos orienta para si”.

Meditação:

O Passo a pensar de hoje nos propõe uma meditação sobre “A vida e seus mistérios”. Partiremos de outro trecho do livro “Em busca de lucidez. O fiel da balança”, do professor e teólogo João Batista Libanio. Escutemos sua reflexão:

Com seu estilo bem didático, o teólogo ajuda-nos a enxergar duas posições extremas que podemos adotar em relação à vida: buscar uma autonomia desencarnada, que não considera a alteridade imprevisível da natureza e das outras pessoas; ou ceder a um fatalismo desengajado, que atrofia nossa humanidade, tornando-nos espectadores do mundo. Noto em mim, vez ou outra, alguma dessas reações? Tento trazer à memória algumas situações concretas de minha vida.

Segundo o professor, a lucidez está sempre naquele equilíbrio que nos faz abraçar a vida como ela é, aprendendo a viver para além da lógica da dominação ou da submissão. Como tenho dado respostas às situações incontroláveis, às novidades – agradáveis ou desagradáveis – que se apresentam a mim de modo imprevisível? Tenho aprendido a tomar decisões maduras nesses momentos?

Escutemos, uma segunda vez, a reflexão de João Batista Libanio.

Para escapar da preocupação neurótica ou da alienação infantil, o teólogo fala da importância de fazermos sempre aquilo que depende de nós – a previdência –, confiando também naquilo que podemos receber do amor de Deus e dos outros – a providência. Encontro em mim esta confiança serena e engajada? Concordo com as ponderações feitas pelo professor?

O Passo a pensar de hoje vai chegando ao fim. Em que pontos ele me ajudou? Que dimensões eu gostaria de aprofundar e partilhar com outras pessoas?

Que você abrace, hoje, a aventura de sua vida como ela é.

Música: Wefko (vertente, em língua mapuche). © 2016, Cristóbal Fones, SJ

Texto: João Batista Libanio. Em busca de lucidez. O fiel da balança. São Paulo: Loyola, 2008, pp. 63-64.