A vocação brota de um olhar

As seguintes palavras são atribuídas a [Miquelângelo]: «No interior de cada bloco de pedra, há uma estátua, cabendo ao escultor a tarefa de a descobrir». Se tal pode ser o olhar do artista, com muito mais razão assim nos vê Deus: naquela jovem de Nazaré, viu a Mãe de Deus; no pescador Simão, filho de Jonas, viu Pedro, a rocha sobre a qual podia construir a sua Igreja; no publicano Levi, entreviu o apóstolo e o evangelista Mateus; em Saulo, cruel perseguidor dos cristãos, viu Paulo, o apóstolo dos gentios. O seu olhar de amor sempre nos alcança, toca, liberta e transforma, fazendo com que nos tornemos pessoas novas. Esta é a dinâmica de cada vocação: somos alcançados pelo olhar de Deus, que nos chama. A vocação – como aliás a santidade – não é uma experiência extraordinária reservada a poucos. Tal como existem «os santos ao pé da porta», assim também a vocação é para todos, porque todos são olhados com amor e chamados por Deus. Diz um provérbio do Extremo Oriente: «Um sábio, ao olhar o ovo, sabe ver a águia; ao olhar a semente, vislumbra uma grande árvore; ao olhar um pecador, sabe entrever um santo». É assim que Deus nos olha: em cada um de nós, vê potencialidades, às vezes ignoradas por nós mesmos, e atua incansavelmente, ao longo da nossa vida, a fim de as podermos colocar ao serviço do bem comum.

Papa Francisco. “Chamados para construir a família humana”. In: https://press.vatican.va/content/salastampa/it/bollettino/pubblico/2022/05/05/0326/00686.html#po

Meditação:

O que é a vocação? Que tipo de olhar pode despertar em nós nosso chamado mais profundo? O Passo a Pensar de hoje quer nos ajudar a refletir sobre isso, a partir de um trecho do texto “Chamados para construir a família humana”, do Papa Francisco. Escutemos o que ele tem a nos dizer:

O Papa Francisco faz um paralelo entre o olhar de um artista diante de uma matéria bruta e o olhar de Deus diante de nossa humanidade frágil. O trabalho de um cria obras de arte, o trabalho do outro cria filhos e filhas da santidade. Você já tinha ouvido esta comparação entre a arte e a santificação? O que isso provoca em você?

O Pontífice vincula este olhar de amor – um olhar sempre transformador – à descoberta da própria vocação, isto é, à experiência de sermos chamados a uma existência única e incomparável, um presente de Deus para o mundo. Você já fez a experiência deste olhar amoroso de Deus? Quem são as pessoas que foram as mediadoras deste olhar em sua vida?

O Papa Francisco recorre ainda à sabedoria oriental para educar nosso olhar à maneira de Deus: esta capacidade de ver coisas grandes no que ainda é pequeno, ver o futuro no presente, ver para além dos sinais visíveis. Você tem aprendido a olhar o mundo e as pessoas desta maneira? Crê na Beleza daquilo que, juntos, ainda podemos vir a ser?

Vamos chegando ao fim de mais um Passo a Pensar. Gostaria de retomar algum ponto desta reflexão?

A Faculdade Jesuíta deseja que sejamos este olhar amoroso capaz de chamar os outros para uma vida nova, com mais sentido!

Música: Adoro Te – D.R. © CD Sanctus – Paulinas.

Produção e Locução: Lucimara Trevizan e Francys Silvestrini Adão SJ