O enigma da felicidade inconstante

A felicidade é algo óbvio, porque é da ordem da vivência e todos nós sabemos quando estamos felizes ou infelizes. Se assim é, então não há um saber acerca da felicidade a exigir algum esforço intelectual; todos já o possuem em seu corpo e em seu coração. Contudo, a felicidade parece fluir continuamente e sempre escapar de nossas mãos quando tentamos agarrá-la. Por isso, se me encontro num estado jubiloso, logo em seguida ele se esvai e a alegria se converte em tristeza, o amor em indiferença ou ódio, o sossego em perturbação e angústia, e os momentos de plenitude, sempre breves e passageiros, murcham, se esvaem, dando lugar ao vazio e ao tédio. Por isso, em meio a tantas oscilações e inseguranças, estamos sempre em busca da autêntica e estável felicidade, ora projetando-a no futuro (…), ora, idealizando-a no passado (…). Essa fluidez dos nossos estados afetivos muitas vezes nos arrasta para os extremos do esquecimento e do desespero. Nos momentos de intenso prazer, nada queremos saber acerca do que é ser feliz, nos é suficiente vivê-los, usufruí-los sem perguntas e inquietações. (…) Nos momentos infelizes, ao contrário, sucumbimos ao peso da dor e somos tentados ao desespero, vendo na almejada felicidade mera ilusão cuja persistência apenas nos faz sofrer ainda mais. (…) Essa fugacidade da felicidade, a nos jogar de um lado para outro (…) acaba por se fazer enigma e nos impor certo espanto interrogativo (…). Se o espanto é, como já ensinavam Platão e Aristóteles, o alimento do filosofar, então é fácil compreender o porquê a inconstante felicidade se tornou um constante tema da tradição filosófica.

Carlos Roberto Drawin. Felicidade e sabedoria In: https://faculdadejesuita.edu.br/felicidade-e-sabedoria/

Meditação:

O que é a felicidade? Por que, em nossa experiência humana, ela nos parece tão inconstante? O Passo a Pensar de hoje quer nos ajudar a refletir sobre isso, a partir de um trecho do texto “Felicidade e sabedoria”, do professor e filósofo Carlos Roberto Drawin. Escutemos o que ele nos diz:

Carlos Drawin fala, num primeiro momento, do caráter autoevidente da felicidade. Tanto em nosso corpo como em nossos afetos, há algo de intuitivo que nos fazer saber se estamos ou não felizes. Você dá atenção a este estado de bem-estar? Identifica esta sensação à felicidade?

O professor destaca, porém, a alternância entre alegria e tristeza, entre júbilo e angústia, própria de nossa experiência humana. E ele formula um alerta: quando estamos bem, corremos o risco da falta de lucidez, da falta de consciência daquilo que estamos vivendo; e quando estamos mal, provamos a tentação do desespero. Você tem consciência desta alternância? Observa em você e à sua volta os dois riscos indicados?

Carlos Drawin identifica justamente na tomada de consciência das variações que fazem parte de nossa experiência o espaço para o espanto, a interrogação e uma reflexão de nível mais profundo, menos autoevidente. A filosofia e a sabedoria vão emergir exatamente desta atitude, tão importante para nossa humanização mais madura e reconciliada com a realidade da vida. Você experimenta este espanto? Tem desejo de refletir para além do que parece óbvio, fixo e estável?

O Passo a Pensar de hoje vai chegando ao fim. Gostaria de aprofundar algum ponto desta reflexão?

A Faculdade Jesuíta deseja que encontremos caminhos de sabedoria e de felicidade em todas as experiências de nossa humanidade comum!

Música: It Is Well With My Soul – Horatio G. Spafford/Philip P. Blis © CD Sanctus – Paulinas.

Produção e Locução: Lucimara Trevizan e Francys Silvestrini Adão SJ