A morte também é mestra

É tão estranho que entre a avalanche de saberes úteis e inúteis que acumulamos uma vida inteira não esteja este: aprender a morrer. A contemporaneidade fez da morte o seu tabu, o mais temido e ocultado, e deixa-nos completamente impreparados para enfrentar a naturalidade com que a vida a abraça. A morte surge como uma interrupção, um interdito de linguagem mais inconveniente do que uma asneira, uma dor para viver às escondidas, uma intromissão com a qual em nenhum momento contamos. Sobre a morte não sabemos o que dizer, nem o que pensar. E isso constitui, de fato, uma falta enorme. (…) Temos de aprender a estar com os outros quando chegar o seu momento, desenvolvendo capacidades até então negligenciadas. Temos de aprender a cuidar da dor e a minorá-la, mas não só com comprimidos: também com o coração, com a presença, com os gestos silenciosos, o respeito, com uma expectativa de coragem. (…) Temos de aprender a embalar a fragilidade, a dos outros e a nossa própria, ajudar cada um a reencontrar-se com as coisas e com as memórias certas, a não desesperar, a encontrar um fio de sentido no que está a viver, por ínfimo e trêmulo que seja. Temos de aprender a ser suporte, temos de querer eficiência técnica mas também compaixão, temos de reconhecer o valor de um sorriso, ainda que imperfeito, em certas horas extremas. À beira do fim há sempre tanta coisa que começa.

José Tolentino Mendonça. “Aprender a morrer”. In: https://www.imissio.net/artigos/53/5327/aprender-a-morrer-por-tolentino-mendonca/

Meditação:

Como lidamos com a experiência da morte? O que esta realidade humana incontornável tem a nos ensinar? Para nos ajudar a refletir sobre isso, o Passo a Pensar de hoje propõe um trecho do texto “Aprender a morrer”, do poeta e cardeal português José Tolentino Mendonça. Escutemos o que ele nos diz:

José Tolentino começa sua reflexão, denunciando um tabu em relação à morte: um silenciamento, a não transmissão de um saber, uma interdição da conversação. Como resultado deste analfabetismo existencial, acabamos por não saber mais relacionar a morte com a totalidade da experiência da vida. Você nota este tabu à sua volta? Qual o resultado disso, em momentos de perda e de morte?

O poeta fala da morte como um aprendizado. Mas, como todos os outros aprendizados, trata-se de algo relacional: aprendemos sobre a morte ao fazer companhia a outros que estão prestes a fazer esta travessia existencial. A proximidade da morte de pessoas queridas é um desafio, mas também é um momento privilegiado de humanização. Como você lida com a partida de pessoas próximas? O que isso lhe ensinou?

Tolentino conclui sua reflexão com uma terna abertura: quem acompanha atentamente a experiência do fim de alguém será capaz de identificar, pouco a pouco, uma nova qualidade de presença, novos começos e novos sentidos que se manifestam aí. Você identifica esta realidade paradoxal em sua experiência?

Vamos chegando ao fim de mais um Passo a Pensar. Há algum ponto desta reflexão que você queira aprofundar e revisar?

A Faculdade Jesuíta deseja que nós saibamos permanecer aprendizes, para colher os bons frutos de todas as experiências de nossa comum humanidade!

Música: Morning Has Broken – Tradicional Gaelic Melody © CD Sanctus – Paulinas.

Produção e Locução: Lucimara Trevizan e Francys Silvestrini Adão SJ

Realização: Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia