Acolher e superar a melancolia

Num ensaio brilhante, Freud relacionou a melancolia à perda de um objeto, podendo este ser uma pessoa que morreu, uma separação amorosa, uma posição social, uma crença, um objetivo, um ideal. Com a perda sofrida, dizia Freud, o Eu mergulha em si mesmo, se afasta dos outros objetos e atividades para se entregar à elaboração do luto. Este é um processo necessário de cura, de cuidado com a nossa própria humanidade. Talvez possamos metaforizar o processo do seguinte modo: como quando enfiamos a mão em um espinheiro sentimos dor, mas, depois, passado o primeiro choque, temos de retirar os espinhos cuidadosamente para que a mão possa novamente tocar nas coisas, reencontrar outras mãos e cuidados. (…) Ora, a melancolia pode se referir a um ou outro objeto específico e próprio a um sujeito determinado, mas também à perda de um ideal suficientemente forte, abrangente e consistente, capaz de nos consolar e nos sustentar nas dificuldades da vida em comum. (…) Quando essas portas se fecham, os impasses tornam-se esmagadores, nos lançam num luto interminável e nos afundam num individualismo vazio e entediado apenas remediado, vez por outra, por gozos momentâneos.

Carlos Roberto Drawin. “Política e Melancolia?” In: https://faculdadejesuita.edu.br/politica-e-melancolia/

Meditação:

O que é a melancolia? Como lidar com este estado de espírito? O Passo a Pensar de hoje quer nos ajudar a refletir sobre isso, a partir de um trecho do texto “Política e Melancolia?”, do professor e filósofo Carlos Roberto Drawin. Escutemos o que ele nos diz:

Carlos Drawin, baseado numa reflexão freudiana, explicita a relação entre o estado melancólico e a experiência de qualquer tipo de perda, física ou simbólica. O modo de elaboração desta perda passa por um mergulho em si mesmo e um afastamento afetivo de outros interesses e ações pessoais. Você já teve esta experiência? Identifica este estado melancólico em pessoas à sua volta?

O professor pondera que este estado melancólico, quando provisório, é algo importante e curativo. O mecanismo interior é semelhante ao que vivemos num luto: para reencontrar a alegria e voltar a se aproximar de outras pessoas e outros projetos, faz-nos bem gastar um tempo dando atenção e cuidado à ferida deixada por uma perda. Como você lida com as suas perdas? Você se permite atravessar estes estados de luto e de melancolia?

Carlos Drawin aponta para um perigo ligado à melancolia. Quando a perda já não diz respeito a um objeto ou a um sujeito queridos, mas a um ideal de vida, a um sentido capaz de reorganizar nosso mundo interior e exterior, o estado melancólico deixa de ser passageiro e acaba por nos lançar no fechamento individualista, no vazio, no tédio e na busca de pequenos gozos passageiros. Você consegue fazer a distinção entre as perdas de algo bom, mas relativo, e a perda de valores e de um horizonte de sentido? Identifica a diferença das consequências destes dois modos de lidar com a perda?

O Passo a Pensar de hoje vai chegando ao fim. Gostaria de aprofundar algum ponto desta reflexão?

A Faculdade Jesuíta deseja que tenhamos valores e ideais sólidos, que nos tornem capazes de superar nossas perdas e de sempre reconstruir nossa vida em comunhão com os outros!

Música: Be Thou My Vision – J.H. Desrocquettes/Ancient Gaelic © CD Sanctus – Paulinas.

Produção e Locução: Lucimara Trevizan e Francys Silvestrini Adão SJ

Realização: Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia