González Faus, analisando o significado original da palavra grega “hairesis”, origem da nossa palavra “heresia”, aponta que ela afirma (…) uma “diversidade de opiniões parciais”. Parciais no sentido de fragmentárias ou não totais. Esta parcialidade e a consequente diversidade de opiniões podem nos enriquecer se as confrontamos e nos ajudam a compreender que todos nós somos parciais e ninguém abarca a totalidade, por mais que assim nos pareça. A questão é quando a parcialidade é de tal forma absolutizada que acaba por negar espaço a elementos imprescindíveis da identidade cristã. (…) [Hoje, há grupos católicos que] se manifestam como verdadeiros hereges, hereges da era digital. Fazem uma “livre escolha” (…) de aspectos do catolicismo que mais lhes agradam (…) e das pessoas mais aptas, segundo eles, para comungar desse pseudocatolicismo. Tudo e todos que não estão de acordo com sua visão de Igreja-seita devem ser excluídos. Tal exclusão, geralmente agressiva e violenta, é comunicada em rede como uma excomunhão (…) dos supostos “hereges”, ou seja, de todos aqueles que se desviam desse imaginário eclesial distorcido. Para isso, opera-se uma excomunicação, uma comunicação de que a comunicação alheia (do papa, dos bispos, dos demais católicos) deve cessar ou não deveria nem existir. Trata-se de comunicação voltada ao silenciamento ou ao aniquilamento de outra comunicação, para que o discurso próprio se torne único e dominante.
Alfredo Sampaio Costa. “Que o amor vença o ódio: por uma pluralidade enriquecedora”. In: https://faculdadejesuita.edu.br/que-o-amor-venca-o-odio-por-uma-pluralidade-enriquecedora/
Meditação:
O que significa a palavra heresia? Como a cultura digital tem feito surgir novas formas de ruptura da comunhão de fé? Para nos ajudar a refletir sobre isso, o Passo a Pensar de hoje traz um trecho do texto “Que o amor vença o ódio”, do teólogo jesuíta Alfredo Sampaio Costa. Escutemos o que ele nos diz:
Alfredo Sampaio, citando o teólogo espanhol González Faus, associa a etimologia da palavra heresia a uma diversidade de opiniões parciais. Segundo o teólogo, tanto a parcialidade quanto a diversidade são boas. O risco está em absolutizar a parte que compreendemos melhor ou da qual gostamos mais, eliminando, assim, a possibilidade de outras compreensões complementares. Você observa esta tendência em si e à sua volta?
O teólogo aponta, ainda, para o modo como esta tendência a uma parcialidade absolutizada se manifesta, nas redes, como uma heresia na era digital. A fragmentação, própria das comunicações rápidas das redes, vai criando uma bolha simbólica e imaginária, bem como uma doutrina reducionista, gerando exclusões e cancelamentos de quem compreende de outra maneira a mesma tradição da fé. O que você pensa sobre este fenômeno das heresias digitais? Como se protege deste ímpeto sectário?
O jesuíta fala da noção de excomunicação, para se referir ao aniquilamento da palavra alheia. Curiosamente, as autoridades eclesiais e acadêmicas tradicionais no catolicismo – o papa, os bispos e os teólogos e teólogas – são também silenciadas, em nome de autoridades midiáticas autoproclamadas. Você identifica, nas heresias digitais, a ânsia de poder que corrói a rica pluralidade católica?
O Passo a Pensar de hoje vai chegando ao fim. Que pontos merecem um maior aprofundamento?
A Faculdade Jesuíta deseja que vençamos a heresia da exclusão graças à comunhão do amor!
Música: Wayra © 2016, Cristóbal Fones SJ
Produção e Locução: Lucimara Trevizan e Francys Silvestrini Adão SJ